O candidato a prefeito de São Paulo Celso Russomanno (Republicanos), no dia 3 de setembro do ano 2000, uma quinta-feira, avançou aos gritos sobre um fotógrafo do Jornal do Brasil, no aeroporto de Brasília, e tomou-lhe à força o filme fotográfico, para expô-lo à luz, destruindo a imagem da partida do então deputado federal de Brasília na quinta-feira. O material seria utilizado em reportagem que o periódico carioca publicaria sobre “parlamentares gazeteiros”, que deixavam a capital do país antes do término das votações na semana.
A situação no aeroporto de Brasília foi testemunhada por passageiros, funcionários da companhia aérea e autoridades do terminal. Russomanno gritava, enquanto destruía o filme do Jornal do Brasil, que “tinha direito à sua imagem”. Assim divulgou o episódio o próprio JB, em sua edição do dia 4 de setembro de 2000:
Extremamente irritado, o deputado Celso Russomanno (PPB-SP) roubou o filme do fotógrafo do Jornal do Brasil Fernando Bizerra Júnior, que registrava ontem os parlamentares que deixavam Brasília, à tarde, no salão de embarque do aeroporto. “Eu quero que você tire esse filme. Você não me pediu. Eu tenho direito à minha imagem”, gritou o deputado, ao saber que estava sendo fotografado.
Russomanno partiu, em seguida, da ameaça para o ataque. O deputado tomou o filme da mão do fotógrafo e o expôs à luz. Como se não bastasse, tentou rasgá-lo. Por fim, levou o filme para a sala de embarque, de onde pegou um avião da empresa Rio-Sul para São Paulo, com decolagem marcada para as 17h. Russomanno não quis falar com a reportagem do JB sem justificar sua saída de Brasília em plena quinta-feira.
Na última quarta-feira (28), o DCM entrou em contato com o fotojornalista que sofreu a agressão, Fernando Bizerra Júnior. Ele hoje presta serviço para uma agência internacional de notícias e preferiu não gravar entrevista, mas confirmou a veracidade de todo o episódio conforme foi publicado e confirmado por testemunhas que falaram, à época, com o Jornal do Brasil.
No mesmo dia em que publicou a agressão e o roubo sofrido por seu fotojornalista, o Jornal do Brasil revelou também que a Infraero – estatal que controla os aeroportos – havia enviado reclamação formal à Câmara dos Deputados contra os arroubos de grosseria e ofensividade de Russomanno:
De acordo com os empregados da Infraero, não é a primeira vez em que Russomanno se envolve em confusões no aeroporto. Ele já teria agredido verbalmente os funcionários da empresa após se recursar a voltar ao guichê para atualizar seu cartão de embarque, que estava sem a etiqueta do código de barra. A Infraero chegou a fazer uma queixa à Câmara dos Deputados contra o parlamentar.
O caso gerou revolta entre profissionais de imprensa, dentro e fora do JB. O jornal publicou ainda naquela semana um editorial repudiando a atitude de Russomanno. O então diretor de redação do periódico, Fritz Utzeri, por sua vez, observou que o parlamentar “ficou possesso ao ser flagrado em embarque de gazeta, abandonando o local onde o contribuinte lhe paga para trabalhar”. Leia abaixo.
Um comportamento que se repete
Agressões, mentiras, medidas ilegais e atitudes histéricas pontilham toda a história política de Celso Russomanno. Conforme publicou o DCM no dia 18 de outubro, durante a campanha de Russomanno para deputado federal em 2014, um motorista do candidato dormiu no volante, bateu em uma moto e matou Marcelo Carneiro Borges, um motorista de ambulância que voltava para casa no município de Iguape, no litoral sul de São Paulo.
Russomanno, então, prometeu ao pai da vítima pagar a faculdade da filha de Marcelo, que ficara orfã. Mas, depois das eleições, ele nunca mais apareceu, nem cumpriu a promessa. Veja, abaixo, entrevista exclusiva que Nélio Borges, o pai de Marcelo, concedeu ao DCM.
Outro incidente emblemático envolvendo Russomanno é aquele em que ele tenta humilhar a operadora de caixa de supermercado Cleide Cruz, obrigando-a a passar produtos abertos indevidamente por ele no sistema de cobranças e pagamentos da loja.
Cleide Cruz não se deixou intimidar e, na semana passada, publicou um poema que termina com uma mensagem simples e direta: “Russomanno, não”.
O candidato, então, passou a dizer que Cleide Cruz estava sendo paga por adversários para falar mal dele. Novamente, a operadora de caixa não se deixou abater e utilizou seus próprios versos para responder a Russomanno, dessa vez usando como inspiração a obra do poeta português Fernando Pessoa. Leia abaixo:
Corruptocracia
O político corrupto é um fingidor
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é bom
Honesto e decente
E os simples que o ouvem
Até se sentem bem,
Mas o corrupto a verdade não diz
E sim, o que lhe convém
E assim, esses canalhas devoram
A esperança do povo sofrido
Os esquecem após a eleição
Pois só pensam no próprio umbigo
(Adaptação do poema “Autopsicografia” de Fernando Pessoa)