Publicado originalmente na Rede Brasil Atual
Mudanças de hábitos e na tecnologia evidenciam as transformações no setor cultural, no Brasil, em uma dúvida. Dados do IBGE, divulgados na última sexta-feira (1º), mostram na “cesta” de produtos a chegada de itens como serviços de streaming e combo (telefonia, internet, TV por assinatura). Tornaram-se obsoletos, ou de pouca relevância nos gastos, a máquina fotográfica, a assinatura de jornal, o CD e o DVD. O levantamento também mostra crescimento do número de empresas, mas perda de participação na economia.
Assim, segundo o Sistema de Informações e Indicadores Culturais (SIIC), de 2011 a 2021 o número de empresas do setor cresceu 3,1%, chegando a 387,5 mil em 2021, enquanto o total no país aumentou 12,1%. Com isso, a participação das atividades culturais no total de empresas, nesse intervalo, caiu de 7,3% para 6,7%.
Evoluções rápidas
“Assim como há mudança nos equipamentos, há evoluções rápidas nas finalidades de acesso. Em 2022, mais de 90% dos usuários conversavam por voz ou vídeo e enviavam mensagens diferentes de e-mail”, aponta o IBGE. “Assistir vídeos, inclusive programas, séries e filmes (finalidade próxima do conceito core de cultura) chega a mais de 88% dos usuários em 2019 e se mantém. E-mail perde importância.”
A pesquisa mostra também desigualdade no acesso a bens culturais. Segundo o IBGE, em 2021, em 14,9% dos municípios os habitantes precisariam se deslocar por pelo menos uma hora para o município mais próximo com museu. Na região Norte, eram 70% dos municípios. No Sul, apenas 1,3%. E em 80,4% das cidades, os habitantes teriam que se deslocar pelo menos esse tempo para chegar a um local com cinema.
Museus, teatros e cinemas
Museus e teatros mostravam maior distribuição pelo território nacional, com presença em 29,6% e 23,3% dos municípios, respectivamente. Mas os cinemas estavam somente em 9%, concentrados no Sudeste. “O cinema mostrou a maior seletividade territorial”, afirma o analista da pesquisa, Leonardo Athias.
As empresas do setor tiveram R$ 740,8 bilhões em receita líquida em 2021 – 5,8% do total, com retração de 2,1 pontos percentuais em relação a 2011. A pandemia é o principal fator que explica que essa queda.
Mudança de hábito
“De 2019 para 2021, houve ganho em algumas atividades relacionadas à publicidade e à internet, enquanto as telecomunicações, TV aberta e por assinatura tiveram perda de importância no valor adicionado. Isso indica mudanças de hábitos, como o aumento do streaming e outros tipos de fruição, em relação ao que se tinha antigamente”, acrescenta Athias.
De acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua, havia 5,4 milhões de pessoas trabalhando na cultura em 2022 – 5,6% do total de ocupados. Durante a pandemia, o número de postos de trabalho caiu: 5 milhões em 2021 e 4,9 milhões no ano anterior. A presença de empregados com ensino superior era maior (30,6%, ante 22,6% na média nacional). Mas a proporção de trabalhadores informais na cultura (43,2%) também é maior (40,9% no geral).