O legado de Dallagnol na Lava Jato é miserável.
Por conta de um acúmulo de obscenidades e ilegalidades, fruto da ambição cega e de uma noção depravada de Justiça, Deltan sai de cena por baixo, sob pressão e sem rumo.
Arrastou para uma crise longa — e que poderia ser evitada — o Ministério Público Federal, numa queda de braço com o PGR Augusto Aras.
Usou e foi usado pela mídia para chantagear sua corporação, seus superiores hierárquicos, o STF, além de políticos e “inimigos” da causa.
Que causa? A dele mesmo.
Dallagnol estava querendo se transformar numa figura intocável, acima da lei, sem chefia, com autonomia completa, um anjo vingador que prestava contas a Deus.
Quase conseguiu.
Mesmo absolutamente desgastado, se recusava a largar o osso, expondo os colegas ao ridículo: nenhum deles era capaz de substituí-lo?
A Lava Jato era tão frágil a ponto de depender dele para existir?
O que ele tinha de tão especial?
A permissão para a Lava Jato continuar seus trabalhos expira no próximo dia 10. Augusto Aras vai decidir pela renovação.
É possível que Deltan Dallagnol tenha costurado com Aras para tentar conter a saraivada de críticas que anda sofrendo.
Oficialmente, as razões são “pessoais”.
Em um vídeo de “despedida” postado nas redes, Dallagnol contou que a filha, de 1 ano e 10 meses, apresentou sinais de regressão no desenvolvimento.
“Depois de anos de dedicação intensa à Lava Jato, eu acredito que agora é hora de me dedicar de modo especial para minha família”, afirmou.
A menina “parou de falar algumas palavras que já falava, parou de olhar para a gente quanto chamávamos e parou de olhar nos nossos olhos”.
“Se você tem bebês, fique atento aos sinais. No nosso caso, os médicos já levantaram suspeitas, e a nossa filha está passando por uma série de exames para um diagnóstico que ainda vai demorar nove semanas.”
É triste.
E é se de pensar se os colegas de Deltan estão, neste momento, fazendo piadas como as fizeram sobre os familiares mortos ou doentes de Lula.
Será que Laura Tessler está acusando DD de “vitimização”? Ou cravando que o problema da garotinha “faz parte do mundo real e ponto”?
Januário Paludo dirá que a saída de Dallagnol é para “eliminar testemunhas”? Ou que “o safado só queria passear”?
Provavelmente, não. A canalhice pode ser seletiva, também.