A estreia de Marcelo Adnet na Globo é o que se esperava: não tem nada a ver com Marcelo Adnet.
- Uma velhinha encontra o protético no dentista. “E aí, está encaixando direitinho?” A dentadura da senhora ameaça cair.
- Uma mulher se aproxima falando de um abaixo assinado contra o excesso de sexo na televisão. “Essa aí tem cara de quem não faz sexo há anos. Não deve nem usar mais sabonete. Se lava com creolina”.
- O dentista vai até o consultório vizinho ao seu. Ele era ocupado por um proctologista e agora por uma advogada. Eles batem na porta. “A senhora podia dar um toque pra gente?” Ela responde: “Aqui não é mais proctologia”.
ha. ha. ha.
A estreia de Marcelo Adnet na Globo foi triste. Adnet, um dos humoristas mais talentosos de sua geração, está agora numa série chamada O Dentista Mascarado. Ele é o Doutor Paladino (sacou?). É uma espécie de filme noir só que, ao invés de um detetive solitário e misógino, o protagonista é um dentista. Sacou?
Há uma distância razoável entre um humorista e um ator de comédias. Adnet, na MTV, fazia o que queria. Tinha liberdade criativa. Fez algumas bobagens, como A Casa dos Autistas, uma paródia cruel do reality show do SBT com deficientes. Mas, de resto, conseguiu estrelar alguns dos momentos mais engraçados na TV dos últimos anos, com suas imitações de jogadores de futebol (o funk “A Gaiola das Cabeçudas”, com a letra citando Aleijadinho, Camões e Dostoievsky é impagável), seus improvisos e suas sátiras crueis de cantores de MPB, atores etc (ele no papel de Arnaldo Jabor foi impagável).
É precipitado dizer que O Dentista Mascarado é um lixo. Mas as perspectivas não são as melhores. Ao que parece, Adnet teve de se adaptar a um formato de humor engessado, trabalhando com o time que faz a Globo o que é em matéria de humor: uma nulidade. Não adianta colocar Diogo Vilela. Não adianta colocar Taís Araújo no papel de uma paciente gostosa. Taís não tem graça não é o fato de colocar um sugador em suas partes íntimas que vai adiantar alguma coisa. O roteiro é dos mesmos de sempre: Fernanda Young e Alexandre Machado (de Os Normais). A direção é de outro mesmo de sempre: José Alvarenga Jr. (cuja obra inclui clássicos como Sai de Baixo, A Diarista, Força Tarefa e O Divã).
O máximo de ousadia é a palavra “puta”. “Você sabia que estou gastando uma puta de uma grana?”, diz um sujeito. Parece peça de teatro do Antonio Fagundes em que a plateia cai na risada quando ele diz “merda”.
Tomara que Adnet emplaque. Ele merece. Mas, a julgar pelo que O Dentista Mascarado apresentou, ele deveria estar arrependido de não seguir os passos do pessoal do Porta dos Fundos, que faz o que quer porque pode e sabe que esse é o caminho.
Corre daí, Adnet, antes que o Zorra Total te pegue.