Publicado originalmente no Blog do Moisés Mendes
Ricardo Nunes estava quase morto na semana passada, diante da ascensão que muitos consideravam irreversível de Pablo Marçal. Com Nunes morto, Bolsonaro morria junto mais um pouco, por vários motivos.
Por não apostar no prefeito, por medo de ser associado ao seu eventual fracasso, e para não ter que pedir trégua depois a Pablo Marçal, se esse fosse para o segundo turno.
A pesquisa Datafolha não muda tudo, mas muda muita coisa, mostrando Nunes com 27%, Boulos com 25% e Marçal com 19%. São oito pontos de diferença de Nunes para quem ele diz ser o tchutchuca do PCC.
A pesquisa mostra que, mesmo esnobado por Bolsonaro – que não aderiu à sua campanha como principal cabo eleitoral –, como esperavam que fosse, Nunes cresceu muito em relação aos 22% da amostragem de 21 de agosto.
A conclusão óbvia, que desfavorece Bolsonaro, é essa: Nunes parece não depender de Bolsonaro para se manter vivo e reagir, pelo menos no momento. E Bolsonaro passa a ser visto como uma figura que pode até ser evitada.
E aí surge então a grande questão provocada pelo Datafolha. Com Nunes fortalecido e com Marçal aparentemente estacionado, Bolsonaro fará o quê?
Será oportunista e finalmente irá aderir à campanha de quem deveria ser seu candidato preferencial?] É o que veremos logo, porque agora não há mais tempo para ficar pensando no que fazer.
Bolsonaro se joga de cabeça na campanha do prefeito ou corre o risco de ficar mal com todo mundo, depois de ter dito que Nunes não era o candidato dos seus sonhos e de compartilhar um vídeo em que Marçal é apresentado como arregão e traidor.
Bolsonaro esnoba Nunes e ataca Merçal mais do que critica Guilherme Boulos, que ficou mal com o fortalecimento do prefeito.
Boulos só é capaz de vencer Marçal no segundo turno (47% a 38%), porque leva goleada de Nunes (53% a 38%). E Nunes também vence Marçal, e com mais facilidade, com 53% a 31%.
Esse é o retrato hoje, que pode mostrar outro detalhe de um erro de Marçal. É possível que o candidato do PRTB tenha exagerado na dose, como o próprio Bolsonaro fez em 2022.
Depois de fidelizar a base da extrema direita, atraindo mais eleitores de Bolsonaro do que Nunes, quando deveria alargar sua pirâmide, continuou jogando para o fascismo.
Afugentou parte da velha direita, que correu para Nunes, e até parte do bolsonarismo neopentecostal que passa a vê-lo como um oportunista.