Publicado originalmente no site da CUT
A CPI da Covid do Senado ouve nesta quarta-feira (4), o tenente-coronel de reserva Marcelo Blanco da Costa, que participou de jantar em restaurante de Brasília onde teria sido feita a proposta de pagamento de propina de US$ 1 por dose de cada uma das 400 milhões de doses da vacina AstraZeneca que o Ministério da Saúde compraria.
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Marcelo Blanco, ex-assessor e ex-diretor substituto do departamento de Logística do Ministério da Saúde, teria apresentado o policial militar e vendedor Luiz Paulo Dominghetti Pereira, representante da Davati Medical Supply, ao ex-diretor de Logística da Saúde Roberto Ferreira Dias.
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Em depoimento à CPI, Dominghetti afirmou que Blanco participou do jantar ocorrido em Brasília no dia 25 de fevereiro, no qual Dias exigiu do vendedor o pagamento da propina para poder fechar o contrato com a Davati envolvendo o fornecimento de 400 milhões de doses da AstraZeneca ao Ministério da Saúde.
A presença do coronel no jantar também foi citada por Roberto Dias em depoimento à CPI no mesmo dia em que Dominghetti prestou seu testemunho. Blanco nega qualquer envolvimento no esquema.
Militar foi indicado pele general Pazuello
Marcelo Blanco assumiu o cargo de assessor no Ministério da Saúde em maio de 2020, quando o ministro era Nelson Teich. Ele foi indicado pelo general Eduardo Pazuello, que na época era o segundo manda-chuva da pasta e buscava ampliar o número de militares nos cargos de confiança do ministério que assumiria dias depois.
Marcelo Blanco abre empresa 3 dias antes do jantar
Após ter sido exonerado em janeiro, Blanco abriu a empresa Valorem Consultoria em Gestão Empresarial, para intermediação de negócios e assessoria técnica, apenas 3 dias antes do encontro com Dias e Dominghetti.
20 dias depois da conversa, Blanco acrescentou atividades ligadas ao mercado da saúde nas atividades de sua nova empresa.
Taís fatos faz com que Blanco seja visto pelos senadores como um elo nas negociações entre o Ministério da Saúde e as partes intermediárias.
“Em todas essas negociatas, ele [Marcelo Blanco] era o representante do Ministério da Saúde. Vamos fazer o link dos pontos de World Brands, Davati e companhia com quem estava do outro lado do balcão, transformando o Ministério da Saúde em balcão de negócios”, disse o vice-presidente da CPI, Randolfe Rodrigues (Rede-AP).
Grupo do Blanco
No depoimento do representante da Davati, Cristiano Carvalho, foi dito que Dominghetti comentou com ele sobre o pedido de “comissionamento” do “grupo Blanco”.
Mas, segundo Carvalho, o pedido teria sido mesmo de comissionamento, descartando o termo “proprina”:
“A informação que veio a mim, vale ressaltar isso, não foi o nome propina, tá? Ele usou comissionamento. Ele se referiu a esse comissionamento sendo do grupo do tenente-coronel Blanco e da pessoa que o tinha apresentado ao Blanco, que é de nome Odilon”, afirmou Carvalho.
Munido de um habeas corpus concedido pelo STF, Blanco poderá ficar em silêncio nas situações que possam incriminá-lo, mas terá que responder a todas as demais perguntas dos senadores.
CPI da Covid
Marcelo Blanco da Costa foi citado diversas vezes por outros envolvidos no caso que já prestaram depoimento à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que apura ações e omissões do governo de Jair Bolsonaro (ex-PSL) no enfrentamento à pandemia do novo coronavírus, além das denúncias de cobrança de propina nas negociações para a compra das vacinas AstraZeneca; e de superfaturamento da indiana Covaxin, esta última denunciadas pelos irmãos Miranda.
O pedido de depoimento de Blanco foi feito pelo senador Alessandro Vieira (Cidadania-SE), que espera, com a oitiva, ser “possível esclarecer a notícia veiculada pelo jornal Folha de S. Paulo de que o governo Bolsonaro teria pedido propina de um dólar por dose de vacina por meio do diretor de logística do Ministério da Saúde, Roberto Ferreira Dias”.
O ex-diretor Dias, que recebeu voz de prisão ao final de seu depoimento aos senadores no dia 7 de julho, afirmou, inicialmente, que seu encontro com Dominguetti e Blanco no restaurante em Brasília foi casual, mas depois assumiu — a partir de áudios exibidos na comissão — que o coronel sabia que ele estaria no local.
Já Cristiano Carvalho, que também se apresentou à CPI no dia 15 de julho como vendedor da Davati no Brasil, disse que Dominguetti usou o termo “comissionamento” quando se referiu à reunião onde teria sido feito o pedido de propina.
“A informação que veio a mim não foi ‘propina’, ele [Dominguetti] usou ‘comissionamento’. Se referiu ao comissionamento sendo do grupo do tenente-coronel Marcelo Blanco [ex-assessor de Dias] e da pessoa que o tinha apresentado a Blanco, de nome Odilon”, disse.
Dias e Dominguetti tiveram novo encontro no dia seguinte — 26 de fevereiro — no Ministério da Saúde.
Com informações da Agência Senado e da Revista Fórum.