Por Leonardo Sakamoto
Porto Alegre e o interior do Rio Grande do Sul vivem o maior desastre de sua história. O rio Guaíba, que banha a capital, atingiu o maior nível já registrado, superando o recorde histórico de 1941. Há dezenas de mortos e desaparecidos e milhares de ilhados e desabrigados. Um esquema de guerra foi montado e adversários políticos se juntaram para atender à vítimas.
Mas há uma parcela de brasileiros, que pela ignorância ou pela safadeza, espalha desinformação nas redes e aplicativos de mensagens, dificultando o atendimento às vítimas. Não apenas porque autoridades precisam gastar tempo com as bizarrices que viralizam, mas também porque isso interrompe resgates, causa pânico, desvia recursos humanos e financeiros.
Há mentiras circulando para todos os gostos. Das que afirmam que pessoas com embarcações particulares serão multadas caso realizem resgates de vítimas, passando pelas que alertam sobre o rompimento de certas barragens que não se romperam e pelos avisos para pessoas ilhadas não deixarem o telhado de casas e subirem em barcos de salvamento porque a água estaria matando por choque, até as que dizem que pessoas estão morrendo por conta de determinados hospitais fechados que, ao contrário, estão abertos.
Ao mesmo tempo, os negacionistas estão irritados com o fato de as mudanças climáticas terem entrado de vez na pauta nacional por conta da tragédia.
E postam fotos da grande enchente de 1941, dizendo que ela foi muito pior que a de agora, o que mostraria, por uma lógica doente, que há um exagero do poder público sobre a situacão atual. E, consequentemente, diminui os cuidados que a população tem que tomar, como economizar água. O Guaíba atingiu, na sexta (3), o maior nível já registrado, superando 1941.
E isso sem contar quem compartilha que o dinheiro federal para o atendimento às vítimas teria ido ao show da Madonna, quando os recursos do evento no Rio foram de empresas, do governo estadual e da Prefeitura de lá.
Em tragédias, ondas de desinformação costumam vir após a onda do desastre natural, revitimizando milhares de pessoas. Nas últimas décadas, isso foi potencializado pela natureza das redes e da difusão de mentiras em massa e em tempo real.
Já as razões que levam a desinformação a surfar nesses eventos são várias, desde o boato criado por ignorância ou mau entendimento sobre a comunicação de um fato, passando por pessoas mal intencionadas que querem ver o circo pegar fogo ou desejam evacuar localidades com objetivo de saqueá-los até gente que transforma toda tragédia em munição.
Independentemente da razão, o que temos é um naco dos brasileiros que pouco se importa com quem vive e quem morre no Rio Grande do Sul, contanto que ele possa faturar em likes, em grana, politicamente.
Originalmente publicado no UOL
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