Você até pode imaginar uma piada, mas não é.
Responsável pela tragédia de Mariana, Minas Gerais, a Samarco ganhou o 1º lugar dentro do setor de siderurgia, metalurgia e mineração de 2021 na categoria “Lugares Incríveis para Trabalhar” em premiação promovida pela Fundação Instituto de Administração (FIA) e pelo portal UOL.
Rodrigo Vilela, diretor-presidente da Samarco, afirmou que se trata de um “reconhecimento […] às boas práticas de gestão”.
“A certificação reconhece nosso esforço contínuo de construir um ambiente agradável para os nossos profissionais, aliado às boas práticas de gestão, acompanhamento de carreira, sempre com um olhar atento para os nossos times para promover um clima e cultura organizacional cada vez mais forte”, diz Rodrigo.
Parece deboche, mas é um release enviado para imprensa pela Samarco.
Será que os familiares dos trabalhadores mortos em Mariana foram consultados para elaboração desse ranking? pic.twitter.com/PgWczPccJe
— Daniel Camargos (@ocamargosdaniel) September 1, 2021
Famílias desabrigadas
Publicado originalmente no site Rede Brasil Atual (RBA)
POR CIDA DE OLIVEIRA
Maior crime ambiental da história do Brasil, o rompimento da barragem da Samarco em Mariana completa 5 anos neste dia 5 de novembro. Mesmo depois de todo esse tempo, a mineradora e suas controladoras Vale e BHP ainda não reconstruíram as casas das mais de 430 famílias que ficaram sob a lama. Para chamar atenção da população para o descaso dessas grandes companhias que se arrasta – com a complacência das autoridades – o Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) inicia uma extensa agenda de manifestações e atividades a partir deste sábado (31).
Ato político e cultural das mulheres atingidas em defesa da vida será transmitido pelas redes sociais do MAB Nacional a partir das 15 horas. Confirmaram participação Mariana Andrade Sobral, defensora pública do Espírito Santo; Deborah Duprat, ex-subprocuradora Geral da República; Érica Kokay, deputada federal (PT-DF); Nalu Faria, liderança da Marcha Mundial de Mulheres e da Frente Brasil Popular. Além destas, também estarão presentes Letícia Oliveira, liderança do MAB; Maria Cussaya, atingida pela Vale em Moçambique; Claudia Ortiz, militante da organização Rios Vivos, da Colômbia; e Marílis Pena Peres, do Centro Martin Luther King, de Cuba.
Na terça-feira (3), a partir das 15 horas, haverá transmissão de ato sobre a luta internacional e a solidariedade entre os atingidos por barragens. Confirmaram participação o ativista Juan Pablo Soler, da organização colombiana Rios Vivos; Sonia Mara Maranha, do MAB; Karin Nansem, da organização Amigos da Terra Internacional, do Uruguai. O debate será concluído com as participações de Silvia Molina, pesquisadora do Centro de Estudos para o Trabalho e Desenvolvimento Agrário, da Bolívia e Martin Mantxo, ativista ambiental do País Basco, nas Espanha.
Construção solidária
Na sexta-feira (6), uma casa construída de maneira solidária pelo MAB será doada à família de Yolanda Gouveia. Mesmo tendo sua antiga moradia seriamente danificada, com estrutura abalada e rachaduras, ela não é reconhecida como atingida pela Fundação Renova. A instituição foi criada para gerir as indenizações pelo crime da Samarco, mas tem sido duramente criticada pelas vítimas e pelas entidades defensoras.
Yolanda, o marido Douglas e seus três filhos (foto abaixo) tiveram sua antiga casa abalada por trincas e rachaduras causadas pela trepidação pela passagem de máquinas e caminhões pesados das empresas, carregando minérios pelas ruas estreitas de bairros afastados do centro de Barra Longa.
De acordo com o MAB, a entrega da casa estava prevista para março. Mas as fortes chuvas que atingiram Minas Gerais em janeiro e fevereiro impediram o avanço dos trabalhos. Na sequência veio a pandemia. A construção foi retomada a partir do final de julho. O total investido na obra foi de R$ 85 mil, arrecadados em campanha coletiva, solidária e voluntária entre atingidos de todo o país, além de doações de entidades parceiras e doações individuais. A lição dada pelo MAB é que a solidariedade, que a Vale não pratica, venceu a falta de dinheiro, que a mineradora tem de sobra.
Crime denunciado
Desde o começo do mês, o MAB realiza a jornada de lutas “Vale com a Injustiça nas Mãos: 5 Anos sem Reparação na Bacia do Rio Doce”. O objetivo é mostrar à sociedade a situação em que está a população afetada pelo crime da Samarco.
“Os problemas causados em Minas Gerais e no Espírito Santo a partir do crime, que tirou a vida de 20 pessoas e causou impactos profundos no meio ambiente da bacia do Rio Doce, são muitos. Falta emprego e renda, não têm acesso a serviços de saúde, porque a população passou a apresentar novas doenças. Também ficaram sem opções de lazer, a partir da destruição do rio”, afirma Thiago Alves, da coordenação do MAB.
Além disso, os atingidos têm denunciado manobras e tramoias que marcam os embates a favor da empresa na esfera judicial. Em muitos casos a Justiça se mostra aliada das mineradoras, dificultando a promoção de um processo reparatório justo e com participação efetiva dos atingidos pela barragem de Fundão.