POR SÂMIA BONFIM, vereadora do PSOL em SP
Guilherme Boulos se filiou ao PSOL. Sem dúvida é uma conquista para o partido, que pode crescer muito socialmente com a aproximação com o MTST. Boulos é um grande líder do principal movimento social da atualidade, ousou organizar o precariado num momento de duros ataques, fez ocupações, ações amplas e radicalizadas, sendo o governo do PT ou o ilegítimo do PMDB.
Não é segredo para ninguém que ele será o candidato a presidência do PSOL e isso será uma experiência importante.
O entusiasmo com sua filiação, porém, é atrapalhado pela forma como o processo está sendo conduzido. E a forma está a serviço de um conteúdo político.
O debate interno entre a militância, as correntes, os pré-candidatos, é fundamental para que haja maior engajamento na campanha eleitoral e para que o programa expresso seja fruto da diversidade de posições.
Não só isso: a democracia dentro do PSOL é imprescindível para que o partido cresça e se torne uma alternativa política no Brasil.
Com dirigentes passando o trator, perde Boulos e perde o PSOL. Mas é importante dizer com tranquilidade que a entrada do Boulos e sua candidatura não inaugura o autoritarismo no partido.
Infelizmente sua entrada é instrumentalizada por alguns dirigentes para impor um isolamento artificial de alguns setores do partido. Utilizam o carisma e a empolgação com a chapa Boulos Guajajara para seguir a marcha do aparelhamento, burocracia e encastelamento em cargos.
O conteúdo político desse processo também gera saudável desconfiança. Boa parte da militância, por exemplo, ficou desconfortável com o vídeo de Lula dizendo que vai ao palanque do Boulos.
Por que ele faria isso agora, se há poucos meses nos chamou de “partido frescurento”? Se sempre repudiou nosso partido e militância? Seu apoio (ou provocação) gera um sentimento de desconfiança de que a campanha do PSOL pode não vocalizar o acúmulo de anos de construção.
Também gera debate as falas que Boulos faz como pré candidato. Faltam pontos que correspondem ao DNA do programa do partido. Isso pode ser disputado, construído e lapidado, tenho certeza.
Mas se está sendo construída sem contar com a militância do partido, a desconfiança é justa e totalmente cabível. Temos todos a avaliação de que é preciso superar a experiência lulista?
De que traição aos trabalhadores é projeto e estratégia e não erros ou equívocos? De que o PSOL é um projeto de construção de alternativa política para o país?
Sem o apreço pela democracia interna, sobram desconfianças e denúncias e perde-se a oportunidade de viver este novo momento em sua máxima potência.