A deputada federal Sâmia Bomfim (PSOL-SP) retomou suas atividades parlamentares na segunda-feira (27) após um período de licença devido ao assassinato de seu irmão, o médico Diego Ralf de Souza Bomfim, no Rio de Janeiro.
De volta à Câmara dos Deputados, Sâmia concedeu uma entrevista à coluna de Mônica Bergamo, da Folha de S.Paulo, e falou sobre o inquérito ainda aberto e as falhas na condução do caso.
“É muito duro pensar que a pessoa com quem você conviveu desde que nasceu foi morta de uma forma tão brutal, por acidente. Pensar que ele não teve nem o direito de saber por que estava morrendo”, disse a deputada, entre lágrimas.
Na madrugada de 5 de outubro, Diego estava em um quiosque na praia da Barra, na zona oeste do Rio, quando foi alvejado em uma ação orquestrada por milicianos. O irmão da parlamentar estava acompanhado por outros três médicos.
Marcos de Andrade Corsato e Perseu Ribeiro Almeida também não sobreviveram. Daniel Sonnewend Proença foi o único que resistiu aos tiros. Segundo as investigações da Polícia Civil, os médicos foram assassinados por engano.
Sâmia afirmou que, de início, não acreditou que o irmão e os colegas tivessem sido assassinados por engano. “Minha primeira reação foi não acreditar quando vi a informação de que seria uma morte por engano. São muitas coincidências: além de ser irmão de uma deputada, também é cunhado de um deputado no Rio de Janeiro [Glauber Braga, do PSOL, marido de Sâmia]”, pontuou.
“É natural que haja essa desconfiança, há um trauma social imenso no Brasil em função da não resolução do assassinato da Marielle [Franco, ex-vereadora, morta em 2018], também no Rio de Janeiro, feito pelas milícias. Mas não houve nenhum indício de ter sido uma execução política”, prosseguiu. “É muito difícil porque nada muda a situação, nada traz ele de volta”, lamentou a deputada.
A parlamentar contou que ficou sabendo da morte do irmão através da imprensa. Naquele dia, Sâmia iria participar de uma agenda com o MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) no Maranhão.
“Uma jornalista me deu condolências e perguntou se a minha família já estava a caminho do Rio para ver o traslado. Na hora, eu pensei: ‘Acho que ela está me confundindo com outra deputada, minha família não é do Rio’. Imediatamente, entrei na página do jornal para ver do que se tratava e vi a foto do meu irmão”, disse.
“Foi uma negligência imensa do hospital, da polícia, enfim, do estado do Rio de Janeiro. Eu e minha família soubemos através da imprensa, e a família dos demais [assassinados] também. Uma notícia dessas você não dá dessa forma”, acrescentou.
Sâmia teve acesso ao inquérito em outubro. “O inquérito é sigiloso, até porque a gente está falando de questões muito sérias e graves, de pessoas [envolvidas] e eventuais testemunhas. Mas foi importante ter acesso justamente por conta dessa falta de resposta, dessa ausência de cuidado com a nossa família”, afirmou.
Ainda na entrevista, a deputada também falou sobre a demora da ambulância. “Foram de 20 a 25 minutos de espera, um tempo considerável, já que as pessoas foram baleadas. É um tempo que pode colocar em risco a vida de uma pessoa que pode sobreviver. Principalmente para o Daniel, que estava com condições claras de sobrevivência, mas também do meu irmão, que não morreu na hora”, disse.