As sanções impostas pelo Ocidente à Rússia em razão do conflito envolvendo a Ucrânia estão causando impactos negativos na vida dos russos. Mas, segundo reportagem da Sputnik Brasil divulgada nesta quinta-feira (24), elas também estão afetando o dia a dia de russos que moram no Brasil e brasileiros com familiares no país.
Até o momento, entre as penalidades adotadas, estão sanções a bancos e membros do governo russo e da elite econômica. Elas incluem, entre outros, restrições às importações de petróleo, gás e carvão da Rússia, além da proibição da exportação de diversos produtos para o país. Mas as sanções também prejudicam a população geral.
A primeira história contada pela agência de notícias é a do advogado Wagner Botelho, casado com uma russa. A esposa mora na Rússia com seus dois filhos, de seis e 15 anos, e não tem planos de se estabelecer no Brasil. O mais velho segue, inclusive, estudando normalmente no país e deve encerrar o ano letivo em agosto.
Além da dificuldade para fazer transações financeiras internacionais, Botelho conta que o preconceito, que sempre existiu, aumentou ainda mais. Segundo ele, há uma onda de “russofobia” assustadora hoje no Brasil.
“A ‘russofobia’ está insuportável em todos os meios. Há, por exemplo, a mídia brasileira. Ela é uma mera repetidora da mídia estrangeira no que diz respeito à cobertura internacional”, diz.
Antes do conflito, Botelho já ouviu, por aqui, frases como : “Ah, você é russo, então você é comunista” e conta que sempre percebeu um certo grau de desrespeito por parte das crianças e até de algumas famílias.
Na opinião do advogado, há canais estrangeiros que estão a serviço de seus países. Com isso, acabam bombardeando os telespectadores brasileiros com “russofobia” 24 horas por dia.
O segundo caso a ser contato foi o de Valéria Fomina. Professora de russo, ela mora no Brasil há oito anos e diz que nunca foi hostilizada pessoalmente por ser russa. Apesar disso, as ofensas nas redes sociais, essas sim, aumentaram após o começo do conflito.
Ela conta que sempre usou suas redes sociais para falar sobre a Rússia e sobre a cultura do país. Com o tempo, começou a receber mensagens desagradáveis. Em uma dessas situações, uma pessoa chegou a falar pessoalmente que ela não era bem-vinda e deveria voltar para o seu país. “Você é russa, não queremos você aqui, volte para a Rússia”.
“Eu não gostaria que tudo isso estivesse acontecendo. Fico muito triste porque recebo essas mensagens todos os dias, praticamente. Até hoje”, desabafa.
Segundo ela, as sanções tem impedido os russos que moram no Brasil de receber em rublos por alugueis ou pelo pagamento por serviços prestados. Ela se refere ainda às pessoas que administravam blogs e páginas nas redes sociais tendo os russos como público. “Desde o começo do conflito, é quase impossível trabalhar para elas porque as redes sociais foram bloqueadas na Rússia”, contou. “A situação é bem complicada”, concluiu.
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Relato explica dificuldades para transferir para a Rússia
O relato de abaixo, de Wagner Botelho, também foi divulgado pela Sputnik Brasil. Ele revela as dificuldades dos russos que moram no Brasil (ou brasileiros que têm familiares na Rússia) para realizar transações bancárias.
“Por comodidade, eu fazia transferência para a Rússia por meio do aplicativo de um banco brasileiro. Desde que se iniciaram essas sanções no SWIFT [sistema que permite transações financeiras internacionais entre bancos], todas essas operações com as instituições financeiras brasileiras têm sido canceladas. A dificuldade que eu tenho tido é imensa, porque minha mulher não pode retirar dinheiro por cartão de crédito, porque lá não funciona o cartão de crédito com as bandeiras brasileiras. É muito difícil. Estamos contando com a solidariedade de russos que moram no Brasil, por exemplo, que precisam de reais. Eu deposito dinheiro na conta deles, e eles depositam em rublos na minha conta na Rússia. Existem também alguns mecanismos, de que estou tendo conhecimento agora, de empresas chinesas que estão trabalhando com cartões a partir dos quais é possível transferir o dinheiro para a Rússia”, detalhou.
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