A pastora batista e teóloga Odja Barros disse que o Projeto de Lei 1904/2024 usa indevidamente o nome de Deus “por homens para manter as mulheres sob domínio”. O PL iguala o aborto após a 22ª segunda ao crime de homicídio, resultando em uma pena maior que a condenação de estupro.
“É o que está acontecendo agora com esse PL. Ninguém está se importando com a vida das mulheres e meninas. São homens usando o nome de Deus em suas disputas de poder”, afirmou Odja ao Uol.
Na ocasião, ela ainda afirmou que a Bíblia narra vários casos de histórias onde o jogo de poder usa a vida de mulheres e meninas como uma moeda de troca para obter privilégios e controlar a vida delas.
Pastora da Igreja Batista do Pinheiro, em Maceió, ela já foi expulsa da Convenção Batista Brasileira e ameaçada de morte em 2021 após comemorar um casamento entre pessoas do mesmo sexo. “Jesus não veio para condenar ou penalizar, mas para salvar”, explicou.
“Argumentar dizendo ‘é bíblico’ é terrível. Impede o diálogo, é simplesmente para fechar uma postura conservadora e encerrar a conversa. Eles costumam usar a para impedir o diálogo sem uma visão qualificada do assunto. Eu, ao contrário, me posiciono e discuto a partir dos estudos como especialista na área bíblica”, disse Odja.
Em 2020, a teóloga lançou um livro sobre leitura feminista na Bíblia. Ela ainda assessora grupos nessa área. Odja conta que começou a estudar a Bíblia para rebater o argumento de fundamentalistas de que a palavra de Deus colocaria a mulher em posição submissa ao homem.
“Usam e abusam da palavra, dizendo que é de Deus, para tentar colocar de novo as mulheres em lugar de submissão e de inferioridade”, afirmou a religiosa sobre os falsos profetas.
A pastora faz questão de relembrar os exemplos dados por Jesus nos evangelhos, como o caso de quando ele se deparou com uma mulher acusada de adultério para ser apedrejada, seguindo a lei da época. “Mas Jesus não a condenou e nem penalizou e ainda se colocou em defesa dela, deixando-a ir em paz”, destacou.
“É importante mostrar como o nome de Deus sempre foi usado para encobrir a violência contra as mulheres na Bíblia. O texto traz a história de Tamar, abusada pelo meio irmão, filho do rei Davi, que abafa o caso, silencia sobre o estupro da própria filha para proteger seu filho homem”, finalizou Odja.