Eu já estou com saudades. Por Kakay

Atualizado em 13 de fevereiro de 2022 às 16:32
A imagem de João Carlos Di Genio e de Kakay
João Carlos di Genio e Kakay. Foto: Reprodução/YouTube/Unip

O advogado criminalista Antonio Carlos de Almeida Castro, o Kakay, escreveu sobre a morte João Carlos di Genio, fundador do Objetivo e da Unip.

Confira abaixo:

“A reta é uma curva que não sonha.”
Manoel de Barros

Sentado aqui, no Cafe de Flore, em Paris, recebo a notícia da morte do meu amigo Di Genio. Figura rara. Brilhante. Amigo. Generoso. Tenho um caminhão de histórias de uma vida amorosa, juntos. Sempre com aquele ar irônico, aquele humor fino, aquela observação mordaz. Um homem que trafegava em todas as áreas com a mesma simplicidade e sinceridade. Mas sempre amigo e direto.

Era brilhante, passou em primeiro lugar em 2 vestibulares para medicina, se fez médico, mas optou por ser empresário. O nosso mestre Drauzio Varela, ao que me consta, ficou em segundo lugar no vestibular, no entanto, continuou em primeiro em longa parceria com o Di Genio.

Com ele e, principalmente, por influência dele, cantei em vários bares. Como ele era o rei da noite, eu cantei no Baretto, no Passatempo, e em vários outros lugares. Não era minha voz que me abria espaço, era a generosidade do Di Genio com todos os cantores da noite. E os rios de Petrus e Cristal que nos embalavam.

Mas principalmente a relação deles com os músicos. Mais de uma vez presenciei um músico em estado de abandono e ele, Di Genio, logo os acolhia em um plano de saúde. Sem dizer nada. Só acolhia. Como acolheu meu irmão em um momento difícil no hospital Oswaldo Cruz por 40 dias. Um coração chagásico. E sempre com aquela risada grudada ao rosto.

LEIA MAIS:

1 – Kakay diz que Moro será levado às barras do tribunal e condenado: “Caso clássico de corrupção”
2 – Tudo no vídeo deste pulha do Deltan é falso, menos o medo de ser preso. Por Kakay
3 – Caso Moïse: Basta! Por Kakay

Na ditadura

O Zé Dirceu faz emocionante registro da postura dele, na ditadura, acolhendo a vários companheiros no seu colégio Objetivo, mesmo com todos os riscos. E fui testemunha da solidariedade dele nos tempos de mensalão e que tais.

Mas há algo entre nós que me emociona. Minha mulher, Valéria, não engravidava. Numa noite de Petrus e histórias, confidenciei com ele. Quatro da manhã. Ele liga para o médico Dr. Roger, o mais prestigiado então. Coloca ao telefone nosso amigo de mesa, e de vida, Antônio Carlos Magalhães, nossa querida Roseana Sarney e outros.

Consulta marcada. A Valéria tem como companhia a doce e brilhante Sandrinha, esposa do Di Genio. Mesma idade. Mesmos gostos. Hoje, grandes amigas.

Para resumir a consulta: saem 2 mulheres para fazer a mágica tentativa. O maior sonho da vida. Nossas vidas! Di Genio me disse que nunca pensei na hipótese, mas que, se eu estava me dispondo, nós iríamos juntos.

Engravidaram, Valéria e Sandrinha, no mesmo dia. E o meu filho mudou minha vida. Ter filho mais velho é uma dádiva, uma sorte, um desafio. Nestes tempos áridos eu penso nele para continuar todo dia na luta. Pode parecer egoísmo, mas não é só pela sociedade, é pelo Érico que eu não desisto. Não vou citar o nome dos 3 meninos dele, pois ele era muito discreto.

E não me esqueço de uma conversa com meu generoso amigo Di Genio, quando ele me disse que eu havia mudado a vida dele, com minha dedicação ao desejo da Valéria — que, claro, passou a ser meu — e que nossos filhos eram irmãos.

Eu, que o tinha como um irmão, fiquei feliz. Como ficávamos nas noites eternas de boêmia. Vá com Deus meu querido. Vou abrir um Petrus e cantar sozinho para você. Para nós. Pelo Brasil. Pela amizade.

Como nosso Pessoa:

“É preciso ser realista para descobrir a realidade. É preciso ser um romântico para criá-la.”

Você foi um romântico idealista.

Participe de nosso grupo no WhatsApp clicando neste link

Entre em nosso canal no Telegram, clique neste link