Sergio Moro e Deltan Dallagnol enganaram a todos por algum tempo, enganarão alguns por todo o tempo, mas não enganaram a todos todo o tempo.
É uma paráfrase da famosa frase atribuída a Abraham Lincoln que se encaixa perfeitamente ao dia de hoje, quando Moro deve ser revelado por inteiro, com os ministros do Supremo dizendo a ele: “O rei está nu”.
A mensagem virá do Supremo porque ali será feito o necessário ajuste de contas, no julgamento do HC pleiteado pela defesa de Lula.
Moro emporcalhou o conceito de Justiça, com uma atuação que visava escalar os degraus do poder. Não teve nada a ver com combate à corrupção.
Moro não pode nem sequer ser chamado de justiceiro, como faz o cineasta José Padilha, que ajudou a criar o herói farsante.
Moro é um homem desmedidamente ambicioso. Apenas isso. Viu no ataque à figura de Lula a oportunidade de se destacar.
Sua atuação lembra a máxima de Tom Wolfe, o jornalista americano autor de “A Fogueira das Vaidades”.
Ele fala sobre o jornalismo, mas poderia estar se referindo ao MInistério Público e ao Judiciário em Curitiba.
“Só existem duas maneiras de fazer carreira em jornalismo. Construindo uma boa reputação ou destruindo uma”.
Moro mirou em Lula porque sabia que, se o atingisse, teria um destaque inversamente proporcional. Calculou bem.
Ajudou a eleger Jair Bolsonaro e depois se tornou condômino do poder em Brasília, mas, desmedidamente ambicioso, despertou a desconfiança de seus pares e daquele que o nomeou.
Jair Bolsonaro não confia nele, porque sabe que Moro quer o seu lugar. Deve pensar: Moro não vai se contentar com uma vaga no Supremo, já que ele tem no currículo o feito de prender Lula, o político mais popular do Brasil e o presidente melhor avaliado na história do país.
No confronto com Moro, Bolsonaro lembra o chefe da máfia que sabe que tem no seu grupo um mafioso que não pensaria duas vezes se tivesse que passar a navalha em sua garganta, depois de abraçá-lo sorridente.
É uma briga de gângster, cada um liderando a sua facção.
A de Moro foi abatida pelas mensagens secretas reveladas pelo The Intercept.
Não há mais salvação para ela depois que o Estadão, porta-voz da direita, em editorial publicado hoje, pede a sua renúncia e o afastamento dos procuradores.
No julgamento do HC que começará daqui a pouco, em Brasília, os ministros farão mais bem ao país se, além de enquadrarem Moro, devolvendo-o ao lugar de onde nunca deveria ter saído, a irrelevância, promoverem efetivamente justiça.
Lula foi condenado sem provas. No processo, não há sequer descrição de conduta criminosa. Foi um arranjo feito por uma organização criminosa, de modo a que seus integrantes acumulassem poder.
Chega.
O Brasil precisa voltar à normalidade institucional, e o primeiro passo, o mais importante, pode ser dado agora, através de uma decisão histórica dos ministros Celso de Mello, Ricardo Lewandowski e Gilmar Mendes.
Os outros serão atropelados pelo trem da história.