Eram 12h40 quando enfim cheguei até a Avenida Paulista. A Globo noticiou às 15h que havia 3 mil pessoas no local. A Folha deu uma estimativa menor mais ou menos na mesma hora: mil manifestantes.
No Masp, segundo minhas contas, havia cerca de 200 pessoas pintando cartazes “Fora PT”, “Dilma, vá para Cuba”, “Abaixo Foro de São Paulo”, “Intervenção militar já”, “Democracia?!? Impeachment Já” e “CorruPTos, fora!”
A maioria das pessoas vestia camisetas da seleção brasileira ou roupas com cores que lembravam a bandeira nacional. Um rapaz levava a bandeira do estado de São Paulo. Camisas polo eram abundantes.
Fui até lá com três perguntas na cabeça:
. Por que você quer o impeachment da Dilma?
. Se Dilma Rousseff for tirada do poder, provavelmente o vice-presidente Michel Temer assumirá o cargo. Você acredita que esta é uma boa troca?
. Quem você gostaria de ver na presidência do Brasil no lugar de Dilma?
As respostas da “torcida organizada” do antipetismo foram as mais variadas possíveis.
Primeiro fui atrás de Paulo Batista, o homem da campanha do “Raio Privatizador”, candidato a deputado estadual pelo Partido Republicano Progressista (PRB) que não foi eleito. Ele foi um dos organizadores do evento e estava em companhia de seus assessores de imprensa, que receberam bem o DCM.
“Eu represento o povo brasileiro, o povo de São Paulo. Quero que as investigações sobre o petrolão ocorram com seriedade. O povo está cansado e não é bobo. Não queremos que o PMDB assuma o governo. Esta mobilização busca, se possível, realizar novas eleições com um impeachment agora, se for bem apurado, doa a quem doer. E eu vou privatizar a Petrobras com o bom-senso, mudando tudo o que tiraram de dinheiro da população brasileira”, me disse Paulo Batista.
Um jovem de óculos escuros que vestia uma camiseta da banda de heavy metal Manowar estava mais inquieto. “Esse governo que está aí não dá. Ele precisa sair, nem que seja por intervenção militar”, disse. E quem deveria ser presidente, eu perguntei. “Eu acredito que Jair Bolsonaro representa uma alternativa realmente interessante. Afinal, ele foi um militar e é um político atuante”.
Um senhor vestido com a camiseta da seleção e boné preto discursou para todos que estavam na mobilização: “Eu vim da baixada só para fazer parte deste protesto. Participei das Diretas Já! e das passeatas que causaram o impeachment de Collor. Fui aos protestos do ano passado. O que estamos fazendo em São Paulo entrará para a história”. Foi aplaudido efusivamente
Uma senhora empunhava um cartaz escrito “Abaixo o comunismo”. Perguntei se ela realmente acreditava naquilo. “Acredito sim que há um golpe em curso promovido pelo PT. Eles só se interessam pelo poder e não se preocupam com a saúde, nem com a educação”, frisou.
Quando perguntei se Michel Temer era uma opção melhor do que Dilma, ela disse que não. “Eu queria de verdade Aécio Neves na presidência, pra mudar de verdade. Ele é meu candidato”.
A assessoria de Paulo Batista, atenta com a imprensa, fez um apelo. “Pessoal, por favor, evitem falar besteiras para os jornalistas. Nós defendemos a imprensa livre, inclusive para meter o pau, mas precisamos estar cientes que pode haver pessoas infiltradas aqui. Também não deixem que ninguém quebre nada para que a polícia não precise intervir”, avisaram em um megafone.
“Viva a Polícia Militar! Opa, não pode dizer isso. Pode?”, disse um rapaz alto e de cabelo raspado atrás de mim. “O PT aparelhou todo o governo, menos a polícia e as forças armadas. Entendem isso? O partido quer colocar uns contra os outros”, berrava um senhor de meia-idade.
Após os discursos, chegou um caminhão de som com a bandeira do Brasil. A Tropa de Choque da PM ficou a postos para começar a desviar o fluxo da Avenida Paulista.
Os manifestantes antipetistas foram, aos poucos, tomando a Consolação. No meio da rua, um senhor careca e alto, com 2 dois metros, pediu que eu tirasse uma fotografia dele com seu celular, mas o aparelho insistia em não funcionar.
Perguntei se ele não podia conversar comigo. Quando disse para qual veículo trabalhava, o rosto dele mudou de feição. “Se eu fosse você, temeria pela sua integridade física aqui”. Travei. Ele então tirou uma carteira de seu bolso. “Eu sou do exército. Sim, nós pediremos a intervenção militar”.
Ele segurava meu braço e queria saber o que eu queria perguntar. Não tive coragem de gravar a entrevista, com medo que aquilo se transformasse em um bate-boca ou até numa briga física. Um dos olhos dele era de vidro e ele fez questão de ficar com o rosto próximo do meu, em tom de ameaça.
Perguntei por que ele queria o impeachment de Dilma, em sua opinião. “Sério que você vai me perguntar isso?”. Ele não achava que existia fraude nas eleições, mas tinha provas de que o PT tinha transformado o país em uma ditadura.
“Você viu esse Dias Toffoli no TSE e no STF? Ele é um advogado do PT e aparelhou o estado essas eleições. Eu também sou formado em Direito e conheço a Constituição. Esse cara é só um bacharel. Se as pessoas conhecessem a Constituição Federal desde criança, saberiam que o impeachment em começo de mandato pode anular a reeleição. Estou protestando por isso, nem que seja para os generais ficarem mais 20 anos no poder”.
Agradeci a resposta dele com um sorriso falso. Ele me deu um tapinha nas costas. Fiquei mais 20 minutos no protesto, mas ele não tirou os olhos de mim.
Ao sair do protesto, havia cerca de 500 pessoas na Avenida Paulista. Faltava pouco para as 16h. Mais pessoas chegavam dos metrôs Trianon-Masp e Consolação para se juntar à concentração. Todos eles se encaminhando para pedir o impeachment da candidata reeleita democraticamente, a presidente Dilma Rousseff.
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