Não deu tempo sequer de subir a rampa do Palácio do Planalto para que Bolsonaro, sua família e seu governo restassem provados que não passam no crivo de uma simples e preliminar auditoria financeira.
Não bastasse a corriola de investigados por caixa dois, crimes financeiros, fraudes em licitações e tudo mais de podre no universo político nacional – inclusos, claro, a malta de lunáticos ideológicos e fanáticos religiosos – o escândalo envolvendo o ex-assessor de um de seus “garotos” carimbou a pecha de corrupto nas testas da nova família real brasileira.
A milionária movimentação bancária do ex-assessor parlamentar de Flávio Bolsonaro, Fabrício José Carlos de Queiroz, e o seu cheque nominal à futura primeira-dama, a evangélica Michelle Bolsonaro, indicam apenas uma das formas com que a família do Messias conseguiu operar o milagre da multiplicação de seus bens.
Diante do volume financeiro revelado em apenas um ano dos demonstrativos levantados, percebe-se que o caso da funcionária fantasma do “mito”, cuja principal ocupação era cuidar de sua vendinha de açaí, é só um aperitivo em relação ao grande banquete em que os prodígios se refestelam.
A título de exemplo e longe de entrar no mérito das omissões patrimoniais em suas declarações à Justiça Eleitoral conforme provam os cruzamentos de informações com os cartórios do Rio de Janeiro, “oficialmente” Flávio Bolsonaro teve aumento do seu patrimônio na ordem de 55% de 2010 para cá.
Considerando que esse invejável aporte de seus bens tenha ocorrido em boa medida a partir dos valores operados pelo seu ex-assessor ora em evidência, o que encontraria a Polícia Federal se investigasse Flávio Bolsonaro que declarou, “oficialmente”, um aumento de 432% no seu patrimônio particular em ainda menos tempo?
Está claro que o que nesse momento está se revelando é apenas a ponta de um grande iceberg.
Que esse provável esquema de corrupção, que promete não ser o maior, tenha sido apurado pelo Conselho de Controle de Atividades Financeiras, é a ironia que normalmente embala os casos de peculiar perversão.
Dada a nova distribuição de poderes ministeriais do próximo governo, o Coaf estará sob subordinação de ninguém menos do que o ex-juiz ostentação, Sérgio Moro.
Esgueirando-se de responder sobre essa investigação como o diabo foge da cruz, é óbvio que Moro, ainda que quisesse, não teria nenhuma liberdade para investigar a família do próprio chefe.
Como além de tudo ainda existem acordos outros que incluem sua possível indicação para ocupar uma das vagas que surgirão no Supremo Tribunal Federal, tudo o que Moro quer nesse momento é que absolutamente nada abale a presidência de seu atual corrupto de estimação.
E aqui chegamos.
O juiz que se notabilizou pela parcialidade na sua caçada implacável ao grande troféu da Operação Lava Jato tendo que servir como o principal vassalo a barrar toda e qualquer investigação que ponha em risco os fiadores de seus interesses pessoais.
Já há muito tempo não restam dúvidas que Sergio Moro utilizou-se de sua toga para orquestrar um grande movimento político.
Em defesa desse mesmo movimento político, utilizará agora o seu cargo de ministro da Justiça para que a corrupção lateral que tanto defendeu continue normalmente às expensas de seu benefício particular.
Essa flagrante subordinação expõe, mais do que suas ambições, o caráter de um homem que, em nome do “combate à corrupção”, ajudou a alçar Bolsonaro ao mais alto cargo da República.
Qualquer objeção a esse fato inquestionável passaria inevitavelmente pelo seu desembarque imediato dessa canoa coalhada de réus e investigados.
Como obviamente isso não irá acontecer, exposta está a verdadeira face de um hipócrita.
Como podemos ver, a despeito do que se passa no Poder Judiciário brasileiro, Moro jamais esteve em um emprego em que se sentisse tão bem ambientado.