158 minutos de cantoria com Wolverine, 0 Gladiador e a Mulher-Gato. A quem apelar?
São duas horas e meia de tortura. Mais exatamente, 158 minutos. Muita gente não aguenta – o que é compreensível. Uma sessão de waterboard deve ser menos triste.
Os Miseráveis é um dos filmes mais chatos de todos os tempos. Não apenas por ser um musical, mas porque as atuações são sofríveis. Hugh Jackman, o Wolverine, dá um show de overacting, exagerado e caricato. Russell Crowe parece incomodado de estar ali. A exceção é Anne Hathaway – que (ALERTA DE SPOILER) morre no início, infelizmente.
Você provavelmente conhece a história, baseada no soberbo romance de Victor Hugo. Na França pós-revolucionária, Jean Valjean (Jackman), o Prisioneiro 24601, é libertado da cadeia sob condicional e enriquece. Mas ele é perseguido pelo terrível Inspetor Javert (Crowe), que quer devolvê-lo à prisão. Valjean conhece e se apaixona por Fantine (Hathaway), uma moça pobre obrigada a se prostituir para sustentar a filha pequena, Cosette (Amanda Seyfreid). Valjean promete cuidar da menina. Quando cresce, Cosette se envolve num triângulo amoroso com o estudante Marius (Eddie Redmayne) e Eponine (Samantha Barks), filha do terrível casal Thenardier (Sacha Baron Cohen e Helena Bonham Carter).
Não vale comparar com o livro, que é covardia. Les Miserables é grandiloquente, lento e piegas, com uma ou outra passagem emocionante, como a fuga pelos esgotos de Paris.
Não há um mísero diálogo. Um único. As frases mais prosaicas (“Vou ao banheiro”; “Me dá um cigarro”; “Está chovendo”) têm ritmo, harmonia e melodia. O diretor Tom Hooper (“O discurso do rei”) fez questão de gravar os atores cantando no set, e não dublando. Pagou um preço por isso. A câmera se encarrega de dar insistentes closes em cada ator durante os números.
As melhores cenas são de Sacha Baron Cohen, que consegue dar uma certa leveza àquilo tudo. Talvez porque, por mais que ele se esforce, você não consegue deixar de pensar no que Borat faria no meio daqueles franceses.
Agora, os milhares de fãs da montagem teatral (desde 1985 em cartaz em Londres) ou os que choraram com a versão de Susan Boyle de I Dreamed a Dream certamente vão se jubilar. Como disse um admirador de Les Miz na saída de um cinema em Los Angeles: “Eu achei completamente ridículo. E era exatamente o que eu queria”.