Clinton vai salvar Obama?
Esta é a grande questão que domina o mundo político americano depois do discurso de 50 minutos em que Bill Clinton anunciou formalmente, na convenção do Partido Democrata, que Barack Obama é o nome para as eleições de novembro. “Clinton deveria ser o Ministro das Explicações”, alguém comentou no Twitter com um número excepcional de retuítes.
Clinton fez uma defesa brilhante do primeiro mandato de Obama e uma exortação igualmente notável para que os eleitores lhe concedam um segundo. Dez quilos mais magro graças à adesão ao vegetarianismo, Clinton fez, com a elegância própria dos bons oradores, aquilo que você e eu estamos acostumados a ouvir na política brasileira quando existe troca de partido no poder.
A saber: 1) atribuiu os problemas da administração Obama à herança – pesada, maldita, como você preferir — recebida do republicano George W. Bush; 2) se mais não foi feito, disse Clinton, foi porque a oposição republicana sistematicamente boicotou os projetos de Obama no Congresso.
Sobre o primeiro ponto, não há muito o que discutir. Os Estados Unidos foram absurdamente malgeridos por Bush. Sobre o segundo, também não: em seu discurso, Clinton citou uma frase do senador Paul Ryan, agora vice de Mitt Romney. Ryan disse certa vez que a prioridade dos republicanos não era ajudar a recuperar a economia americana – mas impedir um segundo mandato de Obama.
Mas a esses dois pontos ligados aos republicanos soma-se um terceiro: Obama também foi vítima de si próprio. O entusiasmo do eleitorado, ávido por mudanças em 2008, se esmaeceu. Obama nos sonhos dos eleitores era muito melhor do que o Obama de verdade. Os Estados Unidos sob ele são lamentavelmente parecidos com os Estados Unidos sob Bush, a despeito das tonitruantes promessas de mudança.
Os eleitores progressistas americanos têm que escolher o candidato menos ruim em 2012. É Obama, muito mais pelos defeitos de Romney do que por suas próprias virtudes, tão sublinhadas por Clinton em 50 minutos.
Caso tivesse dado mais atenção aos chamados 99%, aos quase 50 milhões de americanos que vivem na linha da pobreza, e à classe média em geral, Obama não precisaria que Clinton se esforçasse tanto por salvá-lo. Os eleitores fariam isso. Basta olhar para o chamado quintal americano: nos países em que os 99% entendem que estão sendo bem tratados, a resposta tem sido dada nas urnas. Lula se reelegeu e depois colocou Dilma no Planalto, Chavez tem uma vantagem folgada sobre seu opositor na Venezuela e Rafael Correa goza de enorme popularidade no Equador — isso tudo sob cerrado fogo da mídia tradicional, cuja influência sobre os eleitores tem se revelado insignificante na Era Digital.