O presidente do Conselho da Odebrecht, Emílio Odebrecht, disse tudo sobre a crise moral e política brasileira.
Disse não: repetiu o que falara algum tempo atrás sem nenhuma repercussão.
Num depoimento à Lava Jato, Emílio disse que não conseguia entender como uma coisa sabida de todo mundo aparecia agora com ares de novidade.
Ele se referia ao modelo de financiamento de campanhas políticas. As grandes empresas, sobretudo as construtoras, abastecem há décadas partidos e candidatos com recursos em troca de favores.
Candidamente, Emílio disse: “Não quero eximir nossa culpa nessa história, mas por que isso tudo não veio à luz vinte, trinta anos atrás?”
Ele fechou o raciocínio com uma frase irrespondível: “A imprensa sempre soube de tudo.”
Ele poderia acrescentar isso: sempre soube e sempre lucrou com isso.
Uma boa parte do dinheiro arrecadado por partidos e líderes políticos terminava depois nos bolsos dos donos da mídia, na forma de publicidade de governos federais, estaduais etc etc.
E por que não se desfez o esquema antes? Não por um jorro súbito de moral — mas porque com a ascensão de Lula ao poder a mídia fez da caça ao petismo sua prioridade máxima.
A intenção — afinal fracassada — era convencer a sociedade de que o PT inventara a corrupção.
As grandes empresas jornalísticas simplesmente não noticiavam os esquemas de financiamento de campanha de seus amigos e aliados.
Lembremos apenas um episódio: FHC comprou sua reeleição no Congresso. Todos os barões da mídia sabiam, mas calaram porque FHC lhes interessava — assim como, agora, Temer.
O pecado do PT foi não ter rompido, quando teve a força dos votos, com o esquema putrefato que ligava políticos, grandes empresários e a mídia.
Você pode dizer: a plutocracia teria derrubado Lula rapidamente se ele promovesse uma limpeza nos modos e costumes da política nacional.
Talvez sim. Mas talvez não: pode ser que os plutocratas temessem tocar num ídolo popular como Lula.
Jamais saberemos a resposta. É uma enorme, descomunal pena.