Seis décadas depois, a volta do Cacareco. Por Hildegard Bogossian

Atualizado em 25 de julho de 2022 às 21:21
Eduardo Pazuello
Foto: Jefferson Rudy/Agência Senado

Cacareco foi um rinoceronte carioca cedido ao zoo de SP, e recebido com tamanho carinho pelo povo paulista, que ele o contemplou com 100 mil votos para vereador do município.

Foi há 63 anos, quando Cacareco foi eleito símbolo da insatisfação dos eleitores ante o cardápio de candidatos à Câmara apresentado ao povo da cidade de São Paulo.

Cacareco é a palavra dada a algo sem serventia que se tem em casa. O rinoceronte Cacareco, porém, teve a serventia de representar a indignação popular.

Hoje, no programa Bom Dia, da TV Brasil 247, ao ver, na convenção do PL no Maracanãzinho, o ex-ministro da Saúde Pazuello, dito pré-candidato a deputado federal pelo Rio de Janeiro, eu o chamei de Cacareco Ostentação.

Foi errado, pois, ao contrário do rinoceronte, o general pretenso candidato até agora apenas demonstrou não servir pra nada. Não serviu para ministro, deixando a Saúde aos cacarecos, com 600 mil mortos pela Covid em sua gestão; não mostrou serviço na logística de entrega de oxigênio aos doentes com falta de ar no Amazonas, muito menos para agilizar a aquisição de vacinas.

A memória do saudoso Cacareco, cujo esqueleto está exposto no Museu de Anatomia Veterinária da USP, não merece tão inadequada comparação.

Torcendo para que os eleitores fluminenses não façam de seus votos cacarecos e reflitam antes de votar para deputado federal. Até porque o ex-ministro precisa prestar contas ao país da sua condução do ministério da Saúde num tempo dramático que, no Brasil, graças a ele e à orientação (desorientação) do governo, foi mais do que trágico. Foi calamitoso.

Ao fim deste governo, que aparelha e domina as instituições, a Justiça brasileira terá então oportunidade de provar que tem serventia, que não é um cacareco. Ela deverá julgar e punir os responsáveis pelo período de irresponsabilidade contra a população brasileira, no qual Pazuello foi protagonista.

Se os eleitores se sentirem tentados a votar num cacareco, não votem em quem tem contas de 600 mil mortes a prestar ao povo e à Justiça. Melhor farão se votarem no inofensivo Cacareco do Museu de Anatomia Veterinária da USP.

Publicado originalmente no site Jornalistas pela Democracia

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