POR JOSÉ CÁSSIO
Uma piada velha vem sendo utilizada pela militância do PT para explicar a falta de candidatos fortes na disputa da eleição para prefeito de São Paulo no ano que vem.
– Se você tirar o Haddad, o que sobra é japonês, brincam os petistas numa analogia ao futebol, como tanto gosta o líder máximo do partido, Lula, preso em Curitiba na farsa na Lava Jato.
Na continuidade da conversa, o que se observa é que os atuais postulantes à sucessão de Bruno Covas, Paulo Teixeira, Carlos Zarattini, Jilmar Tatto, Estela Haddad e Mercadante (embora o ex-ministro de Lula e Dilma jure de pés juntos que não é candidato) estão como reservas em fase de aquecimento para ver quem vai amarrar as chuteiras para entrar em campo e tentar o gol decisivo na etapa final.
Conversei com duas importantes lideranças do partido nesta semana e a história, mais ou menos, bate.
Quem são as opções do PT para concorrer à prefeitura? Fiz a pergunta ao presidente municipal do partido, Paulo Fiorilo.
– O PT não está discutindo nomes ainda, disse o deputado estadual. Estamos no momento de fortalecimento interno, de discutir com outros partidos e de ter uma frente contra a retirada de direitos por parte do governo federal, do governo estadual e do municipal.
O vereador Antônio Donato, ex-líder do PT na câmara municipal, segue na mesma direção.
– Antes o PT tem uma tarefa fundamental, que é discutir com todo o setor progressista e democrata da cidade a construção de um programa que signifique a valorização da democracia e o combate à desigualdade – social e regional.
– Um programa que valorize fortemente as questões ambientais, que seja um projeto que respeite a diversidade – isso está no DNA do paulistano. Esse é o esforço primeiro que o PT tem que fazer: antes de discutir nomes, temos de construir junto com esses setores um movimento maior do que uma articulação partidária, para fazer frente à tarefa que temos, de evitar que a extrema-direita possa vencer, ou que um governo medíocre como o de Bruno Covas continue.
A preocupação de ambos é com o PSDB, mas as primeiras pesquisas de opinião indicam que o adversário a ser combatido, pelo menos nesse primeiro momento, é outro: Celso Russomanno.
Segundo levantamento do instituto Paraná Pesquisa, o garoto prodígio do bispo Edir Macedo lidera em todos os cenários.
Com Haddad na disputa, aparece com 22,4% contra 14,6% do ex-prefeito.
Márcio França (PSB), que surrou João Doria na capital em 2018, aparece com 13,1%, seguido de Paulo Skaf (MDB) com 10,9% e o atual prefeito Bruno Covas (PSDB) com 7,9%.
A novidade do levantamento tem relação com a extrema direita.
A bolsonarista Joyce Hasselmann (PSL) aparece com 5,9%, à frente de experientes como Guilherme Boulos com 2,6%, Andrea Matarazzo com 2,3%, e Gabriel Chalita 2,0%.
– É um cenário com o qual estamos trabalhando, diz Donato. Teremos diversos candidatos ligados à centro-direita e a direita e essa divisão pode nos ajudar, já que o PT vem num processo de recuperação.
O vereador cita a performance do próprio Haddad para justificar.
– No primeiro turno em 2016 ele teve 16% e saltou para 20% na eleição do ano passado. Acreditamos que, diante da tragédia que é o governo Bolsonaro, o desgaste do Doria e da gestão ineficiente de Bruno Covas, temos condições de crescer e, portanto, chegar forte em 2020.
Fiorilo concorda.
– Apesar de todas as dificuldades que enfrentamos com ataques da mídia, com denúncias falsas, nossa perspectiva é de otimismo.
O PT tem uma relação de amor e ódio com os paulistanos.
Nos últimos 30 anos foi o partido que mais venceu eleições na cidade (três vezes, com Erundina em 1988, Marta em 2000 e Fernando Haddad em 2016), mas jamais conseguiu uma reeleição.
– Cada governo teve suas circunstâncias, explica Donato. O da Erundina evidentemente pagou o preço de ser o primeiro e houve uma certa inexperiência.
– Quando conseguiu encontrar um rumo, já na segunda metade do mandato, não foi suficiente. O de Marta foi o que mais próximo chegou de se reeleger. Foi um governo que deixou profundas marcas na cidade – Bilhete Único, CEUs, enfim, uma série de políticas em várias áreas – e também numa circunstância muito particular perdeu a eleição. Haddad pegou uma conjuntura muito difícil.
– Cada caso é um caso, mas é evidente que a ausência de um segundo governo foi decisiva para que a gente não construísse marcas mais profundas, continua Donato.
– Por exemplo, o governo Lula, no segundo mandato, pode consolidar toda uma política que havia sido semeada no primeiro. Essa oportunidade não tivemos em São Paulo.
Em relação a Bruno Covas, ambos consideram um governo medíocre, para dizer o mínimo.
– O Bruno se notabilizou por comandar uma gestão que está tirando direitos dos trabalhadores, avalia o deputado Fiorilo.
– Aliás, não só o Bruno, como o Dória também. Começaram com a redução do leve leite, depois cortaram o TAG, que é o transporte escolar. O Bruno agora mexeu no bilhete único e também no vale transporte, prejudicando quem trabalha. É um governo que tem como prioridade o que é obrigação, que é a manutenção da cidade. Então, é fraco e sem marca.
Donato é ainda mais crítico.
– A gestão Doria/Covas é uma não-gestão no essencial, diz ele.
– Não apresentou nenhuma política nova. Pelo contrário, destruiu coisas que existiam. O Plano de privatização do Doria, agora seguido pelo Covas, não disse a que veio. Enquanto isso, os ataques ao Bilhete Único, à merenda escolar, ao Leve Leite seguem sendo praticados sem dó. A promessa de zerar o déficit de creches não foi cumprida. Na saúde, tivemos três meses de Corujão e mais nada. Uma gestão que fez muito marketing e entregou pouco resultado, e o que fez até agora só favoreceu a desigualdade.
Enquanto os japoneses de Lula continuam fazendo ginástica para tentar uma vaga no segundo tempo, Fiorilo, Donato e cia vão adotando a tática que vem dando certo com Fábio Carille no Corinthians: garantir o empate sem gols no primeiro tempo para tentar a sorte na etapa final.
– Penso que antes precisamos dialogar com a alma da cidade com foco no combate à desigualdade, desconversa Donato.
– Esse deve ser o eixo da nossa proposta de governo, além da taxação dos mais ricos, porque eles é que têm que contribuir para que a gente possa ter políticas que beneficiem a grande maioria, que vive em condição muito difícil.
Fiorilo adota um tom provocativo, lembrando a mística da estrela vermelha.
– O PT é um partido de chegada, nunca se esqueçam disso, diz.