A sala de corte de um frigorífico fica entre 10ºC e 12ºC e a longa exposição a baixas temperaturas pode causar riscos à saúde.
O uso de roupas molhadas em ambientes frios pode acarretar gripe, resfriado, problemas respiratórios e até hipotermia.
Estes são os riscos aos quais estão expostos os funcionários do frigorífico da JBS em Nova Veneza (SC).
“O ambiente de frigorífico é úmido e o trabalhador está trabalhando molhado, tendo a possibilidade de ficar doente”, diz Giseli Adão, trabalhadora da unidade da JBS em Nova Veneza (SC) e dirigente do Sindicato de Trabalhadores nas Indústrias da Alimentação de Criciúma e Região (SINTIACR).
Giseli conta que ela e outros funcionários estão há cerca de 15 dias sem avental protetor plástico, sendo expostos a resíduos de carne e sangue e tendo de trabalhar com as vestes molhadas por mais de 8 horas por dia.
Segundo a funcionária, a retirada do avental foi feita pelo Setor de Engenharia da Qualidade da empresa após um cliente no Japão reclamar da presença de pequenos pedaços de plástico em um lote de frango.
“Tivemos uma reunião com o coordenador da unidade e com o chefe do RH e eles disseram que não iam mudar, mesmo com a reclamação dos funcionários”, conta.
“Isso pode aumentar o contágio do coronavírus na nossa região”, diz Giseli, que afirmou que os funcionários ficam mais expostos à Covid sem o avental e ainda denuncia a distribuição máscaras inadequadas.
Segundo ela, os trabalhadores estão usando a máscara PFF-2, cuja reutilização é desaconselhada.
“A empresa vai nos fazer usar essa máscara a semana toda e ela é feita para lugares secos, o ambiente de frigorífico é úmido”.
Mais de 1.000 funcionários da JBS testaram positivo para o coronavírus no Mato Grosso do Sul.
Apesar de não haver nenhum óbito por coronavírus em Nova Veneza, a cidade tem 95 casos confirmados da doença. A taxa de Covid por 100 mil habitantes é de 626,40.
Por se tratar de atividade essencial, os frigoríficos não foram fechados, mas estão sendo reguladas por normas estaduais e federais.
Na esfera da União, foram estabelecidas medidas pela portaria conjunta nº 19, já no estado de Santa Catarina há a Portaria 312, que prevê a distribuição de EPIs e o distanciamento mínimo de 1,5 metro entre os trabalhadores.
Mas, segundo a funcionária, isso não está sendo cumprido:
“Na portaria, álcool gel e tudo mais, tudo é bonitinho. Mas na produção não foi modificado nada. O frango é abatido da mesma forma e o distanciamento social não existe: uma distância, de nariz a nariz, de 80 cm”.
“Eles se preocupam muito com a qualidade do produto e atender ao mercado, mas o ambiente de trabalho pouco importa, o importante é a produção”, critica Giseli.
Para o Ministério Público do Trabalho (MPT), os trabalhadores em frigoríficos estão entre os mais vulneráveis à pandemia.
O órgão apura 206 denúncias e tem 114 inquéritos abertos por casos de Covid-19 entre funcionários de frigoríficos.
A funcionária e dirigente do sindicato afirma que irá ao órgão contra “essa sacanagem e esse pouco caso com quem mais contribui com o lucro da empresa”:
“Como representante do sindicato, a nossa arma é a denúncia, é ir para o Ministério Público, em todas as esferas, para reclamar e tentar melhorar a vida de nosso trabalhador da unidade. Estamos denunciando em todos os cantos”.
“Muita gente acha que é só um avental de plástico, mas isso é vida, é qualidade de trabalho, para nós é essencial”, completa.
Há alguns anos a JBS foi condenada a pagar R$2 milhões por danos coletivos por expor trabalhadores ao frio sem locais adequados para fruição do intervalo de recuperação térmica.
Procurada pelo DCM, a empresa afirmou:
“A JBS esclarece que os uniformes utilizados em suas unidades seguem as mais rígidas regras de biosseguridade e normas de saúde e segurança estabelecidas pela Norma Regulamentadora 36 (NR-36) [do trabalhador no frigorífico]”.