O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), afirmou neste domingo (27) que membros do Primeiro Comando da Capital (PCC) teriam orientado familiares e apoiadores a votarem em Guilherme Boulos (PSOL) para prefeito de São Paulo. A declaração foi dada a jornalistas no colégio Miguel Cervantes, na zona sul da cidade, onde foi votar.
Segundo Tarcísio, o governo paulista realizou um trabalho extenso de inteligência, monitorando e interceptando comunicações do PCC. Essas informações, de acordo com ele, foram compartilhadas com o Tribunal Regional Eleitoral de São Paulo (TRE-SP) para garantir que medidas cabíveis fossem tomadas.
A afirmação de Tarcísio veio após ser questionado por uma jornalista sobre um comunicado da Secretaria de Administração Penitenciária (SAP). A SAP teria interceptado mensagens de membros da facção, que instruíam seus apoiadores a votarem em candidatos específicos em algumas cidades do estado.
Ao ser perguntado diretamente pela Folha sobre quem seria o candidato indicado pela facção na cidade de São Paulo, Tarcísio respondeu: “Boulos”. Apesar da acusação, o governador não forneceu evidências concretas que pudessem comprovar essa suposta orientação do PCC. Em nota, Boulos negou qualquer relação com a facção e classificou a declaração como irresponsável.
Ex-servidor denuncia ligação de prefeito com ex-cunhado de chefe do PCC
Apesar da acusação feita pelo governador bolsonarista Tarcísio de Freitas (Republicanos), ao longo da campanha eleitoral a imprensa e os adversários levantaram a possibilidade de ligação do candidato à reeleição, apoiado pelo Palácio dos Bandeirantes, com a facção criminosa.
O atual prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB), e adversário de Boulos, foi denunciado por envolvimento em um suposto esquema de “rachadinha” na administração pública. A acusação de participação na prática de peculato partiu de um servidor municipal à Fórum.
De acordo com a denúncia, funcionários indicados por Nunes para cargos públicos teriam de devolver parte do salário. Além disso, ele apontou irregularidades em contratos emergenciais milionários na Secretaria Municipal de Infraestrutura Urbana e Obras (SIURB). O chefe de gabinete dessa secretaria, Eduardo Olivatto, também foi citado na denúncia, devido ao seu suposto envolvimento direto no esquema.
O denunciante, que pediu para não ser identificado, afirmou que a influência de Nunes na SIURB já existia desde o período em que ele era vice-prefeito na gestão de Bruno Covas (PSDB). Segundo ele, o bolsonarista oferecia cargos em troca de uma parte dos vencimentos dos indicados, ou então nomeava funcionários “fantasmas”, que não exerciam qualquer função real na prefeitura.
“Ele já oferecia cargos em troca de rachadinha para pessoas que ele precisava colocar na campanha ou funcionários fantasmas, para que devolvessem parte do salário”, declarou o servidor
O suposto esquema também envolveria contratos emergenciais na SIURB, especialmente após a chegada de Eduardo Olivatto ao cargo de chefe de gabinete da secretaria. O denunciante afirma que Olivatto trouxe pessoas de sua confiança para ocupar cargos estratégicos, a fim de operar o esquema de forma mais eficiente. “O Eduardo tem uma pessoa de confiança dele, que é o braço direito, chamada Mônica Pessoa. Ela ajuda nas questões junto às construtoras e empresas que estão envolvidas no esquema”, detalhou.
A denúncia aponta que houve mudanças na estrutura de funcionários da SIURB para facilitar o funcionamento do esquema, incluindo a nomeação de novos servidores e a transferência de outros. “Eles trouxeram Sidneia Maria Correia Leite, da Zona Sul, para assumir o Departamento de Licitações e Contratos, e ela passou a integrar o grupo que gerenciava esses contratos emergenciais”, relatou o funcionário.
Outro aspecto mencionado na denúncia é o suposto controle restrito sobre os contratos emergenciais, que, segundo o servidor, passaram a ser acessíveis apenas a uma equipe de confiança de Olivatto. “Eles cortaram o acesso de outros funcionários a esses contratos emergenciais. Somente os servidores próximos ao chefe de gabinete tinham acesso, nem mesmo pessoas do departamento podiam consultá-los”, afirmou.
O servidor também revelou que, no final de cada ano, havia uma movimentação intensa para esvaziar o caixa da secretaria, com um aumento expressivo nos contratos emergenciais, que seriam superfaturados.
“Havia uma tensão no fim de ano para zerar o caixa rapidamente, publicando tudo no Diário Oficial. Muito dinheiro era enviado para a SP Obras, e muitas pessoas foram nomeadas com esse aumento significativo nos contratos”, disse o servidor.
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