O vice apartamento decorado Michel Temer deu uma entrevista ao Globo em que, em suma, dá “explicações” para sua conduta ao longo de 2015. Temer, aquele mesmo, alega que não conspirou.
É um mea culpa. Falta ajoelhar no milho. Fora toda a abjeção, a carta que ele enviou a si mesmo endereçada a Dilma, no auge da crise, ajudou a dividir ainda mais um partido fisiológico e cheio de disputas internas.
Um pedaço do PMDB no Senado o quer fora da presidência da agremiação na convenção de março. Dois nomes são cotados (se não forem em cana antes): Romero Jucá e Renan Calheiros.
Alguns exemplos do recuo de Michel Temer:
. “Incomoda-me enormemente o fato de a todo instante dizerem que estou tramando contra a senhora presidente da República. Jamais o fiz. Ao contrário, ao longo desses últimos meses, quando se falava do impedimento da presidente, eu sempre afirmava que ela iria, e nós iríamos até 2018”.
. “Não foram poucos os setores políticos e da sociedade que me procuraram para dizer que o Brasil deveria tomar outro rumo. Sempre recusei qualquer participação em movimento dessa natureza. Minha fala sempre foi de preservação institucional. Setores interessados começam a divulgar que eu faço conspiração”.
. “Não são poucas as ocasiões em que o PMDB me insta, quase me obriga, a convocar uma convenção para o rompimento com o governo. Agora mesmo, não são poucos aqueles que querem, novamente, uma convenção. Tenho esticado isso precisamente para a data aprazada da convenção que é março do ano que vem. Digo tudo isto para revelar que, em momento algum tive qualquer inspiração, nem aspiração, golpista”.
. “A minha lealdade pessoal e institucional — sou muito atento às instituições — não tem produzido o resultado desejado. Pelo contrário, a minha conduta discreta é usada para tentar ressaltar que, na verdade, estamos conspirando. Não tenho culpa se setores do partido, a, b, c ou d, querem atrapalhar, querem derrubar a presidente. O que faço é revelar a minha discrição nesta matéria, como fiz ao longo da minha vida pública”.
. “A premissa da alternativa está na Constituição. No presidencialismo, você elege duas figuras para ter continuidade, se não você teria uma ruptura que a todo o momento agravaria a crise institucional. Eu diria que o impedimento não é exatamente uma crise institucional, porque está previsto na Constituição. Mas é uma crise política indesejável. Mas, se ele ocorrer, não significa que é contrário à Constituição”.
. “Sempre me declarei a favor da permanência da presidente. Podem verificar que em todos os momentos disse isso. E por quê? Para combater essa insanidade de dizer que sou golpista ou conspirador. Agora, legitimidade ou não é por conta do Congresso”.
. “Vou ressaltar mais uma vez que a carta foi eminentemente pessoal. Tenho certa liturgia e relativa sabedoria política. Se fosse para saber que seria divulgada, escreveria um documento político, e não pessoal. Ali, eu disse coisas que há muito tempo eu imaginava dizer e fiz uma espécie de pré-pauta para que nós pudéssemos depois conversar. Mas não era para ser divulgada, evidentemente”.
. “Ela [Dilma] foi muito franca comigo, estava bastante emotiva quando nos falamos. Foi uma conversa boa, confortável. Eu disse das minhas razões, ela mesma disse: ‘Será que eu fiz essas coisas?’ Ficou preocupada, disse que tem preocupação: ‘Tenho apreço pessoal, admiração por você. Todos têm admiração por você’. E eu disse: ‘Pois é, presidenta, mas isso não chega à execução. Fica apenas na palavra’”.
Os mandados de busca e apreensão na casa das estrelas de seu partido na Operação Catilinárias e, desde ontem, a virada no STF o colocam numa situação bem diferente. O plenário do Senado aprovou um requerimento determinando que o TCU faça auditoria nos decretos assinados em 2015 por ele que abrem crédito suplementar.
Michel Temer tenta tirar agora, inutilmente, o carimbo de traidor da testa e ver se salva os dedos. Sua briga com Renan Calheiros será boa de assistir. O golpe deu ruim.