Sempre próximo do poder, Elio Gaspari jantou com Michel antes de lançar o “Fica, Temer”. Por Kiko Nogueira

Atualizado em 29 de março de 2017 às 21:34
Elio Gaspari
Elio Gaspari

 

Elio Gaspari quer que você acredite que Michel Temer “é o que há de melhor para levar o país até as eleições de 2018”. É o que alega em sua coluna de 29 de março. Aqui o texto na íntegra.

Elio faz uma ginástica retórica para defender a solução Michel. A ideia é a de que, se não for o marido de Marcela, teremos “a eleição indireta de um napoleãozinho civil”.

Destaco alguns trechos:

. “Ele foi eleito na chapa de Dilma Rousseff, conhecendo a mecânica de suas obras e suas pompas”.

Imagine se não conhecesse.

. “Temer ofereceu-se para o lugar de Dilma Rousseff como um governo de salvação e união nacional”.

Não salvou e muito menos uniu. Ficamos combinados que, segundo Elio, MT não conspirou e cavou o pênalti, apesar de cartas com citações em latim, encontros com empresários e até um convite para Chalita ser ministro da Educação em setembro de 2015.

. “Quem ia para rua gritando ‘Fora, Temer’ deve reconhecer que as coisas pararam de piorar”.

Passo.

. “Nas duas últimas vezes em que se mexeu com a legitimidade de um vice-presidente, o Brasil acabou metido em memoráveis encrencas.”

Ora, a encrenca já é memorável. A ilegitimidade está personificada em Michel e no golpe que protagonizou — com gosto e com vontade, não docemente constrangido ou no papel de estadista que se imola para nos salvar.

Nem Elio acredita em Elio. Seus arquivos contêm um vasto manancial de argumentos contrários à sua proposta.

No dia 1º, ele lembrou que Temer “fritava a presidente Dilma Rousseff e o comissariado petista”. O “governo de notáveis” anunciado por ele “era lorota e foi logo desmentida”.

Antes disso, cravou que “Temer foi instrumento essencial e ostensivo do processo que depôs Dilma Rousseff.” Fico por aqui, mas de onde veio isso tem mais.

O que o fez embarcar no barco de Michel?

Eventualmente, Michel lui même. No último dia 17, os dois jantaram no La Tambouille, em São Paulo. Quem pagou, veja só, foi o Faustão.

Fausto Silva, conta sua assessoria, “estava no restaurante quando entrou o jornalista Elio Gaspari, que foi cumprimentá-lo. Como o Elio já havia pagado um jantar para Fausto, na ocasião de uma entrevista, o apresentador, em retribuição, avisou ao gerente que aquela mesa era por conta dele”.

Depois disso, afirmam os assessores, “o presidente entrou e sentou na mesa do jornalista”.

Elio Gaspari sempre esteve próximo do poder. Em seus “Diários da Presidência”, FHC gasta páginas e páginas sobre José Serra. Num trecho, diz o seguinte: “Basta ler os artigos de Elio Gaspari, que são obviamente escritos por inspiração do Serra.”

Diante da língua melíflua de Michel, conhecedor da mecânica das obras e das pompas — resistir, quem há de?