As vidas paralelas dos dois prefeitos mais mal avaliados na história recente de São Paulo
Kassab está terminando seu segundo mandato com uma reprovação recorde. Para 42% dos paulistanos, segundo o Ibope, numa pesquisa encomendada pelo Estado de S. Paulo, sua administração foi ruim ou péssima. Só 27% a consideraram boa ou ótima.
É um índice medíocre – o que não o impediu de, na entrevista coletiva em que apresentou seus resultados, tentasse inverter a situação. Das 223 metas estabelecidas, cumpriu 123 e 45 estariam em fase avançada. “No geral, Haddad terá mais facilidade para administrar São Paulo. Vamos deixar R$ 4,5 bilhões”, disse. Também se deu uma “nota 10 com louvor”.
O plano de metas foi criado pela ONG Rede Nossa São Paulo, que tem como um dos idealizadores o empresário Oded Grajew. Para Grajew, se ele tivesse feito o que afirma, “não estaria tão mal avaliado”. Nas metas sobre a Copa, por exemplo, Kassab não realizou rigorosamente nada. Zero. “Se a abertura fosse hoje, não ia ter transporte, estádio, aeroporto…”, continua Grajew.
O prefeito e fundador do PSD tem apenas um rival recente na avaliação de seu mandato: Celso Pitta. Ao deixar a prefeitura, em 2000, 78% achavam seu governo ruim ou péssimo, de acordo com o Datafolha. A maior parte das obras que prometera não foi executada ou foi entregue pela metade.
Ambos têm mais em comum do que o governo tíbio e as denúncias de corrupção.
Surgiram pelas mãos de Paulo Maluf, o cleptocrata populista por excelência. Eram, vamos dizer, “técnicos” e “caras novas”. O carisma nunca foi o forte deles. Kassab é engenheiro, empresário e corretor de imóveis. Pitta era economista, formado pela Universidade Federal Fluminense, com mestrado em Leeds, Inglaterra. Kassab foi secretário de Planejamento de Celso Pitta. Declarou, na campanha para o primeiro mandato, que se arrependia de ter participado de seu governo. “É uma atitude deplorável, de quem cuspiu no prato que comeu”, afirmou o ex-chefe.
Também enfrentaram algum preconceito. Pitta foi o primeiro prefeito negro a ser eleito em São Paulo. Kassab, segundo uma campanha maldosa de Marta Suplicy, não é casado e não tem filhos.
As semelhanças terminam aí.
Celso Pitta teve um destino trágico. Candidatou-se a deputado federal em 2002 e 2006, sem sucesso. Foi preso duas vezes (a primeira em 2004, por desacato à autoridade, depois de uma discussão feia com o senador Antero Paes de Barros na CPI do Banestado). Nicéa, uma ex-mulher de anedota, promoveu-lhe uma perseguição implacável. Ficou foragido por suas semanas por não pagar pensão (devia 155 mil reais). Em 2009, foi operado de um tumor no intestino, morrendo nove meses mais tarde. Seu advogado declarou que os processos que respondia agravaram seu estado de saúde.
Kassab é um sobrevivente. Fundou um partido, o PSD, que, em suas palavras imortais, não é de direita, esquerda ou centro. É um homem rico, oportunista e você provavelmente ainda vai ouvir falar muito dele. Agora, se os paulistanos tiverem juízo, não será na prefeitura.