Série do History Channel elimina termo “ditadura” com desculpa de que é “polêmico”. Por Donato

Atualizado em 11 de fevereiro de 2020 às 15:00
Herzog

Atrás de dinheiro chapa-branca, o History Channel está se especializando em distorcer a história.

No último domingo o canal estreou Investigadores da História. Um seriado com 13 episódios que trata de alguns dos crimes cometidos durante a ditadura.

Lá estarão os casos de Vladimir Herzog, Carlos Marighella, Carlos Lamarca, Stuart Angel e até Juscelino Kubitschek.

Até aí a proposta parece boa. Entretanto, há um detalhe que não pode ser ignorado: o período no qual se passaram esses acontecimentos não é denominado “ditadura”.

Para o produtor Tony Rangel, ditadura é um termo “polêmico”.

“A gente não tem nenhuma tendência, nem de esquerda nem de direita. Aquilo que a investigação consegue materializar como vestígio está na série. O que seria mais tendencioso a gente deixa de fora.”

“A gente nem usa o termo ‘ditadura’, a gente usa ‘regime militar’. Se foi ditadura ou não, isso é polêmica hoje”, declarou ele em entrevista ao UOL.

Oi?

Não é polêmica nem hoje nem nunca, meu caro. É falta de vergonha na cara. Ou ganância mesmo.

O seriado recebeu verbas públicas. O projeto da Bioma Filmes – nome fantasia da Cena 1 Produções – obteve recurso da Ancine, aquela que hoje em dia reprova tudo que não estiver alinhavado ao bolsonarismo e seus negacionistas de plantão (Processo nº 01416.005177/2019-00 Especificação B19003462).

Há dois anos, o canal já fizera uma série que buscava deturpar fatos, pois estava baseada no patético livro Guia Politicamente Incorreto da História do Brasil, de Leandro Narloch.

O livro de Narloch é de uma canastrice tal que todos os historiadores sérios que haviam participado do seriado imediatamente desautorizaram a utilização de seus depoimentos e imagens ao tomarem conhecimento da pegadinha. De Laurentino Gomes a Mary Del Priore, todos pularam fora.

O History Channel havia captado recursos através de lei de incentivo para produzir aquela bizarrice e, como não poderia ser diferente, está novamente autorizado a captar o montante de R$ 1.784.795,07 para realizar a segunda temporada, o Guia Politicamente Incorreto da História do Brasil 2.

Um produtor posar como ‘nem de esquerda nem de direita’ não seria o maior dos problemas. Em meros 13 episódios, “Investigadores da História” irá abordar os casos mais emblemáticos e famosos.

Ocorrências tão descaradas cujos atestados de óbito já estão até sendo emitidos com revisão. No próximo domingo será a vez de Vlado Herzog. O primeiro episódio foi sobre o estudante Stuart Angel, filho da estilista Zuzu Angel.

Ou seja, céu de brigadeiro para um produto isentão.

Mas segundo a Comissão Nacional da Verdade ocorreram 434 mortes. Dessas mortes, 210 são pessoas consideradas desaparecidas até hoje.

Não foi ditadura? É polêmica?

O grave nessa história toda é um canal de que se vende como fonte de História, cujo nome em inglês deve representar credibilidade para os servis batedores de continência à bandeira americana, especializar-se em moldar a verdade em função das verbas e da ideologia do desgoverno atual.

É um enorme perigo ao espectador pouco ilustrado e ávido por fontes que desconstruam as narrativas que ele considera doutrinadoras de esquerda, marxistas culturais, e sei lá mais o quê.

As primeiras batalhas travadas na implementação de regimes totalitários são exatamente contra cultura e educação.

Por que o History Channel não faz uma série sobre isso?