Uma informação aos que ainda tentam ver o arsenal encontrado num apartamento de Campinas como algo improvável, distante ou apenas surpreendente. Há arsenais em apartamentos por toda parte no Brasil.
Pode existir um paiol com pólvora, armas e munições, como esse encontrado em Campinas, aí do lado da sua parede. No apartamento do seu vizinho cordial, aquele que todo o prédio respeita e até admira.
O paiol de Campinas só foi descoberto porque os explosivos foram detonados por acidente e provocaram um incêndio. Sem as explosões, o coronel reformado Virgílio Parra Dias, dono do arsenal, seria o que sempre foi. Um intocável oficial do Exército.
Não seria o dono de 111 armas, 3 mil munições, 25 quilos de pólvora e três granadas. Um acumulador? Apenas um colecionador-atirador? Um coronel com direitos que os civis não têm?
Por que o coronel tinha tantas armas? A Polícia Federal vai investigar a possiblidade de o sujeito ser depositário de armamento de manés dos CACs dispostos a formar o Exército de Bolsonaro.
É possível, e também deve ser investigado, que ele estivesse armazenando armas de facções criminosas? Ou o coronel era apenas um militar arrogante indiferente à segurança dos vizinhos?
É hora de se perguntar, como inquietação dos democratas, incluindo os que agora leem esse artigo: quantas armas e munições há no apartamento do seu vizinho armamentista?
Quanta munição deve existir na casa daquele sujeito que todo mundo sabe ser bolsonarista bélico? Em armários, embaixo da cama, no quartinho da empregada.
Alguém imagina que CACs têm lugares apropriados para armazenar armas? Que tenham depósitos longe das residências? Que guardem revólveres, fuzis e munições em cofres e bunkers?
As armas deles estão aí ao seu lado. São 3 milhões de armas cadastradas no Brasil. A metade em situação irregular, com registro vencido. As armas clandestinas estão dentro das casas dos armamentistas.
E vão continuar onde estão. O delito pela posse de arma com registro vencido não dá nada. Por decisão do STJ, quem tem arma ilegal em casa, porque não renovou a licença, comete apenas uma irregularidade administrativa, e não um delito penal.
E assim os CACs vão guardando em casa armas e munições, como esse coronel mantinha seu arsenal. O bolsonarismo, que está na índole da maioria dessa gente, continua vivo por concessões como essa.
O extremista de direita que guarda arma em casa está autorizado a continuar guardando, mesmo sem registro, porque irá pagar apenas uma multa, se for flagrado. Mas flagrado por quem?
Pense no vizinho que até agora não foi perturbado, pense no barril de pólvora que ele tem em casa, imagine por que ele guarda tantas armas e munições e torça para que não aconteça o que aconteceu em Campinas.
O bolsonarismo armou-se na ilusão de que um dia iria sustentar o golpe ao lado do seu tenente, mas o homem fugiu para os Estados Unidos. Armou-se também para que, como está provado, na condição de CAC, possa se dedicar ao tráfico de fuzis e metralhadoras e abastecer o crime organizado.
Em algum momento mais um paiol vai explodir, como explodiu em Campinas, e não acontecerá nada, porque a extrema direita continua fazendo o que fazia quando seu líder estava no governo.
O bolsonarismo armado é, por cumplicidade do Exército e leniência do sistema de Justiça, um imenso barril de pólvora ainda intacto nas cidades de todos os tamanhos, na Amazônia, no Cerrado, nas periferias e também nos edifícios de classe média que têm coronéis como moradores.