Shell, Exxon, BP, etc.: as grandes responsáveis pelo aquecimento global vão pagar ?

Atualizado em 15 de maio de 2024 às 0:15
Termômetro de rua marcando 41 graus
Agência Brasil

Por Felipe A. P. L. Costa

A opinião pública brasileira, como toda e qualquer opinião pública mundo afora, não navega em águas turbulentas – digo: não vai além das informações sensoriais e do senso comum (ver o artigo ‘Ecologia sensorial e a mente humana’).

Formadores de opinião, em especial aqueles que se veem como progressistas, já deveriam ter identificado corretamente a origem da desordem atmosférica ora em curso.

Estou a me referir aqui à velocidade com que a química atmosférica foi alterada ao longo dos últimos, digamos, 67 anos (ver o artigo ‘RS debaixo d’água: O problema não está nas nuvens, está na anarquia dos mercados e na omissão dos governantes’).

Do mesmo modo como a indústria do tabaco (ver o artigo ‘Petróleo, picanha, cigarro ou cinema: O que de fato está a levar todos nós para o inferno?’) sempre foi responsável pela elevação na incidência de câncer entre fumantes, os maiores responsáveis pelo aquecimento global são as petroleiras – grandes corporações que sugam, sujam e matam, tido Shell, Exxon, BP, Petrobras etc.

As chamadas “Sete Irmãs”, as maiores petroleiras do mundo. Reprodução

Sim, é fato que o agronegócio também tem um impacto negativo bastante significativo. Proporcionalmente, porém, é um impacto bem menor e, em geral, mais localizado. Por exemplo, a degradação ambiental que prospera hoje no MT, no PR, no RS e em GO é liderada pelo agronegócio, em especial a cultura da soja (ver o artigo ‘Desflorestamento: pausa para o lanche?’).

No entanto, os problemas ecológicos que caracterizam essas regiões (e.g., erosão e perda de solo, assoreamento de corpos d’água, envenenamento de córregos e rios e desperdício de água) têm um impacto principalmente local.

A força e a abrangência do impacto passam a ter uma relevância maior quando as atividades passam a interferir na composição ou no comportamento da atmosfera – e.g., por meio da emissão de gases-estufa. Esse é um dos motivos pelos quais a queima de combustíveis fósseis é mais preocupante. Há, porém, um fator adicional: a diferença da quantidade de sujeira injetada na atmosfera pelas duas atividades.

O total de CO2 emitido pelo uso da terra (e.g., desflorestamento e manutenção de grandes rebanhos) corresponde a pouco menos de um quinto do que é emitido pela queima de combustíveis fósseis, notadamente carvão (e.g., geração de eletricidade em países temperados) e petróleo (e.g., produção de gasolina, diesel e querosene para movimentar veículos automotores e aeronaves).

Essa balança mudou há quase um século. Até o início do século 20, atividades relacionadas ao uso da terra eram os maiores responsáveis pela emissão de carbono de origem antropogênica (C-Antro). A partir da década de 1920, no entanto, a balança começou a pender para o lado dos combustíveis fósseis.

Atualmente, as emissões mundiais de C-Antro correspondem a um valor anual médio de 10,8 Gt (1 Gt – lê-se gigatonelada – equivale a 1 bilhão ou 1 × 109 toneladas). Desse total, 1,2 Gt vem do uso da terra e 9,6 Gt vêm da queima de combustíveis fósseis.

O que significa dizer que para cada 1 t de C-Antro que é injetada na atmosfera pelo uso da terra, a queima de combustíveis fósseis injeta 8 t (ver artigo ‘Um balanço do ciclo global do carbono’). Em percentuais, 83% do C-Antro são gerados pela queima de combustíveis fósseis, enquanto 17% são gerados pelo uso da terra.

Diante desses números, não parece exagero dizer que, além da indústria bélica, outro grande inimigo da humanidade são as petroleiras que operam mundo afora.

Por que o governador do RS, em vez de tergiversar ou de saltitar por aí como um animador de auditório viciado em saquear o bolso dos telespectadores, não vai aos tribunais exigir uma reparação de danos por parte das corporações (Shell, Exxon, BP, Petrobras etc.) que estão a promover a desordem climática que ora enfrentamos?

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