Imagine um país onde um vereador aparece em um vídeo no qual ele se relaciona com uma criança, e a comissão de investigação cogita apenas lhe aplicar uma advertência. Imaginou?
Então, você vive nele. E eu também.
Gabriel Monteiro (PL) aparece com a criança e sua mãe, ambas em situação de rua. Qualquer semelhança com a frase “as ucranianas são fáceis porque são pobres” não é mera coincidência.
Pra gente como ele, pobreza é fetiche. Não deve ser combatida, mas usada como instrumento para abusos.
Se não bastasse, ele é acusado de estupro por quatro mulheres, assédio sexual e moral por ex-funcionários. O vereador também foi denunciado pelo Ministério Público por filmar cenas de sexo com adolescente de 15 anos.
O que faz a Comissão de ética? Cogita resolver o caso com uma advertência escrita – que é o mesmo que não resolver o caso. Um vereador que se comporta como estuprador não deve apenas ser advertido, por razões óbvias.
Considerar essa possibilidade é o mesmo que “sambar na cara” das mulheres brasileiras. É o mesmo que dizer: ora, pedofilia e estupro de vulnerável não são crimes assim tão graves.
Para nossa sorte, Chico Alencar, do PSOL, foi sorteado como relator do caso. “Não tem questão partidária ou ideologia propriamente dita porque ele é do PL ou bolsonarista. O que vamos julgar é possível atendado à ética e ao decoro parlamentar”, garantiu Chico, como nenhum bolsonarista faria.
O que mais incomoda nesse caso é que existe no país um Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos que permanece em silêncio.
Damares Alves diz-se defensora da família, mas quando uma família (mãe e filha também são uma família!) é violada por um vereador de seu próprio governo, ela não demonstra o menor incômodo.
A defesa de Damares das crianças sempre foi um carro- chefe para ela. Quem esqueceu que a mesma Damares calou-se quando o governo Bolsonaro recusou absorventes às mulheres em situação de rua? A mesma que fez um verdadeiro escarcéu na porta do hospital quando uma criança preparava-se para abortar depois de um estupro?
Não há Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos. Esse ministério é, e sempre foi, uma ferramenta de cortina de fumaça que tem funcionado bem para o bolsonarismo.
Entretanto, nem por isso devemos deixar de apontar seus descasos, para que conste na história. É preciso continuar dizendo que Damares e sua “ideologia de gênero” não estão nem aí para crianças, família ou o que mais inventem para fazerem-se ilibados diante do olhar de seu eleitorado burro.