Na noite de ontem, depois do jogo, durante a comemoração em frente ao Allianz Parque, torcedores do Palmeiras gritavam: “É… Nickollas! É… Nickollas!”
A mãe de Nickollas, ali presente, se emocionou, outros torcedores também, e pediam para tirar fotos com os dois.
O pequeno Nickollas e a mãe, Sílvia Grecco, se tornaram símbolos da conquista do clube deste ano, desde que foram vistos no estádio, em setembro, assistindo a um jogo.
Nickollas é cego de nascença e a mãe o leva ao estádio para viver a paixão que ele tem pelo time. Ao lado, com a cabeça quase encostada na criança, ela narra as partidas.
Esta cena, fotografada, viralizou nas redes sociais e se tornou símbolo do Campeonato Brasileiro de 2018.
Eram eles — Nickollas e Sílvia — que deveriam estar ontem no centro do estádio, entregando medalhas aos campeões, e não Jair Bolsonaro.
Há pouco tempo, Bolsonaro gravou um vídeo, num bar em São Paulo, gritando: “Vai, Curíntia”, e já vestiu a camisa do Flamengo, Vasco, Fluminense e Botafogo.
O que exatamente Bolsonaro fez para o clube que justificasse levantar a taça juntamente com os campeões?
Só a sabujice dos diretores do clube explica essa deferência.
Ou interesses inconfessáveis.
Felipão, ao receber o presidente eleito no vestiário, prometeu que vai visitá-lo e disse algo como “estou aqui para ajudar no que for preciso”.
A dona da Crefisa, a principal patrocinadora clube, postou uma foto ao lado de Bolsonaro e disse que o havia encontrado no estádio meio que por acaso:
“Vejam só quem está por aqui”.
Que surpresa!
A Crefisa é uma das instituições financeiras que mais crescem no Brasil e tem outros negócios, como faculdades, que também dependem muito da caneta do presidente.
Teria partido de Leila, também conselheira do clube, o convite para Bolsonaro estar ali?
Segredos de bastidores. Se foi, ninguém vai contar.
Para os diretores, a sabujice não honra a história de um clube que foi fundado por operários das indústrias Matarazzo, um deles assumidamente anarquista.
Não honra a história de um clube que, em 1945, realizou uma partida contra o Corinthians para arrecadar fundos para o Movimento Unificador dos Trabalhadores (MUT), ligado a Luiz Carlos Prestes.
O Palmeiras ainda guarda o troféu daquela conquista.
Na preliminar do derby realizado em 14 de outubro de 1945, o time do Sindicato dos Trabalhadores das Indústrias de Fiação e Tecelagem enfrentou o do Sindicato dos Trabalhadores da Construção Civil.
Tempos em que o Brasil e o mundo respiravam ares renovados e ainda festejavam a derrota dos mais sangrentos regimes de direita da história: o nazismo na Alemanha e o fascismo na Itália.
Bolsonaro é o avesso de histórias como esta.
Ontem, no estádio, alguns poucos na arquibancada o chamaram pelo que realmente foi: ”oportunista”, ao verem levantar a taça como se tivesse colaborado para o título
A maioria aplaudiu e gritou “Mito”, o que não surpreende: o ingresso mais barato no Allianz Parque custa hoje 120 reais.
No gramado, Bolsonaro fazia gestos de arminha com as mãos, dançava de um lado para o outro, colocou um menino nos ombros, à moda do cavalinho, e até tentou erguer Felipão.
Foi uma demonstração de vitalidade surpreendente para quem, há pouco de um mês, dizia não ter condições de saúde para comparecer ao debate com Fernando Haddad, porque “o colostomizado “não tem controle sobre as fezes, peida, fede”.
A Globo aceitou a desculpa e cancelou o encontro já programado no início da campanha eleitoral.
O eleitor perdeu a oportunidade do confronto direto de propostas, e elegeu alguém que grita “Vai, Curíntia”, veste a camisa do Flamengo e depois ergue a taça como se fosse o capitão do Palmeiras.
Ontem, a mesma emissora deu destaque positivo para a presença dele na comemoração do título, e fez um trocadilho.
“Para fechar a vitória, um gol do capitão do Verdão (Bruno Henrique), que depois recebeu a taça de um outro capitão, o presidente eleito Jair Bolsonaro”.
O Brasil é maior do Campeonato Brasileiro, que é maior do que a Globo, e o Palmeiras está muito acima de comandantes sabujos.
É da estatura de Sílvia e Nickollas, verdadeiros torcedores do clube.
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Abaixo, as imagens que desonram a história do Palmeiras: qual a colaboração de Bolsonaro para a conquista do título que justificasse levantar a taça?