Em 2014, Liz Wahl, apresentadora do programa Russia Today, pediu demissão no ar.
Pegando de surpresa sua equipe, afirmou que não poderia “fazer parte de uma rede financiada pelo governo russo que encobre as ações de Putin”.
Wahl estava inconformada com a cobertura do conflito na Ucrânia.
Contou que tinha orgulho de ser americana e acreditava na divulgação da verdade.
Explicou que sua decisão também tinha um fundo pessoal: seus avós fugiram dos soviéticos quando a Hungria foi invadida e seu marido era um médico numa base militar dos EUA.
Foi uma atitude corajosa.
Na mesma época, Rachel Sheherazade foi proibida de emitir seus comentários por seu patrão, Silvio Santos.
Por que não resistiu? Por que não bateu o pé em nome da liberdade de expressão que, ela clamava, estava sendo solapada pelo então governo bolivariano?
Na entrega do Troféu Imprensa, domingo, Silvio lhe deu um esculacho em público, falando que não a contratou para dar opinião e sim para ler o teleprompter.
Ela riu, resignou-se e foi para casa.
Rachel já definiu Silvio como “muito gente”. Mesmo depois de, como ela mesma descreveu, “amordaçada”, continuou livrando a cara do SBT.
“Posso usar as redes sociais para continuar fazendo o que eu fazia no horário nobre: colocar o dedo na ferida”, declarou.
Mas como é que alguém com tanta convicção, com tanta vontade de brigar pela “justiça”, com tanto destemor, com tanto apetite para denunciar as ditaduras – de esquerda –, admite ser subjugada dessa maneira?
Por que ela ainda está lá, quietinha, ao lado do velho Joseval Peixoto?
Porque sua coerência é relativa. Porque o limite dela é o do salário. Porque talvez ela não acredite tanto assim no que fala.
Porque ela se faz de intransigente em seus princípios, mas não rasga dinheiro.
Porque, se o Silvio pedir, é capaz até de Rachel Sheherazade começar a achar que Lula, dependendo do ângulo, não é tão feio assim.