Um grupo de intelectuais judeus divulgou na sexta-feira, 3 de novembro, um comunicado em que defende a solução de dois Estados para a questão palestina e expressa uma postura decidida em relação ao conflito desencadeado no mês passado pelos ataques do Hamas.
Os autores, que se identificam como sionistas, argumentam que é necessário uma mudança de abordagem por parte do governo de Israel em relação a essa questão.
Veja o texto na íntegra abaixo:
Judeus sionistas de esquerda defendem dois Estados; extremistas se unem no ódio
Muito sangue, dor e lágrimas ainda vão rolar. A guerra está em curso e ninguém é capaz de prever quanto tempo vai durar nem o número de vítimas. As imagens são insuportáveis, a barbárie total mostra de crianças a velhos degolados, populações civis sem ter o que comer e beber.
Nós, judeus da diáspora, pouco peso temos sobre os combates; o que não nos dá o direito à omissão. A guerra das narrativas está em curso e contra as narrativas fake devemos nos posicionar e denunciar. Num futuro próximo as posições serão claras; judeus como não judeus ficarão nus.
Nossa postura, dos Judias e Judeus Sionistas de Esquerda, é clara: sem a criação de um Estado palestino Israel não viverá em paz e segurança. E o antissemitismo se espalhará, talvez como nunca desde os anos trágicos do século XX. Quem defende de fato a existência de Israel tem de defender a criação de um Estado Palestino.
O sofrimento dos palestinos, mais ainda em Gaza que nos territórios, é terrível; não pode perdurar. Será preciso construir uma relação de diálogo entre os setores progressistas palestinos e israelenses para chegar a um modus vivendi. Palestinos e israelenses terão de ultrapassar o ódio para construir uma paz benéfica para todos.
Neste processo, o Hamas não é e nem será um interlocutor, da mesma forma que Benjamin Netanyahu e seu governo de extrema-direita messiânico não são nem serão interlocutores possíveis. Será preciso tirar o eixo do debate de Hamas-Netanyahu para colocá-lo no eixo ‘Israelenses progressistas + Fatah/Autoridade Nacional da Palestina.
Construir as bases para a retomada do diálogo em vista da criação de um Estado palestino é hoje, e será ainda mais amanhã, a prioridade das prioridades. Isto é uma evidência para a construção da paz e da segurança para israelenses e palestinos. A democracia israelense corre sério risco de não sobreviver se um Estado palestino não for criado em curto ou no máximo médio prazo. É uma urgência, de interesse de todos.
Importante lembrar que o Hamas não milita, nem nunca militou, em prol de um Estado palestino. O Hamas é um grupo terrorista, teocrático, fundamentalista, racista, antissemita desde as suas origens. Seus objetivos são: destruir Israel, acabar com os judeus e impor à Palestina a Sharia, a lei islâmica religiosa.E afirmamos: da mesma forma que o Hamas não é a Palestina, Netanyahu não é Israel.
Tanto um como o outro impede qualquer estratégia que vise uma solução. A extrema-direita israelense, ao final desta guerra, será varrida do cenário político e Bibi entrará no passado. Ben Gvir, Smotrich e a gangue que compõem o governo israelense serão jogados no lixo da história, após terem sido julgados e condenados por crimes de guerra.
Isso à condição que a população palestina volte a ter alguma perspectiva de uma vida melhor, com o Hamas repudiado. Os terroristas do Hamas são os autores dos ataques hediondos de 7 de outubro, é portanto deles a culpa, porém o governo israelense também é responsável. Primeiro por ter, desde Ariel Sharon, apostado na segurança em detrimento da paz e assim ter até mesmo instigado o status quo com o Hamas.
Netanyahu é corresponsável por essa guerra, pois fechou os olhos para que o Catar e o Irã alimentassem o Hamas com milhões de dólares, enfraquecendo o Fatah, partido mais moderado, que poderia ser o interlocutor para a criação de um Estado Palestino vivendo em paz, cooperação e segurança ao lado de Israel.
Segundo, por ter multiplicado os colonatos na Cisjordânia, enfraquecendo a Autoridade Palestina, interlocutora natural para as negociações. A extrema-direita israelense preferiu um acordo tácito com o Hamas a um Estado palestino. Hoje, os israelenses e nós da Diáspora pagamos o preço alto da guerra, do antissemitismo, do risco de atentados.
Em diversos países do mundo, mas sobretudo no Brasil, uma parcela considerável da esquerda tem deixado extravasar todo o seu ódio aos judeus, que chega ao extremo de justificar os atos bárbaros de 7 de outubro, chamando o Hamas de “movimento de resistência”, que combate em nome do povo palestino. Pouco importa que se trata de um grupo fundamentalista islâmico, ditatorial, homofóbico, misógino, racista, de extremíssima direita, para quem o lugar dos homossexuais é no caixão.
Pouco importa que este grupo terrorista seja patrocinado e financiado pelo Irã e pelo Catar, dois dos maiores violadores dos direitos humanos. O que vale é que sejam, todos, inimigos dos Estados Unidos, vistos como os únicos imperialistas do planeta. Esta autointitulada esquerda (outros chamam de stalinista) já não esconde mais seu desejo de ver o fim do Estado de Israel. Usam e abusam da “crítica ao sionismo” para vomitar seu antissemitismo.
Assim, pessoas que até ontem lutavam ao nosso lado na dura campanha pela eleição de Lula, hoje não hesitam em mentir descaradamente ao nos taxar de supremacistas antipalestinos. Esta mesma esquerda altamente antissemita, que se evidencia em praticamente todos veículos de comunicação que se dizem “progressistas” e diferentes da mídia corporativa, nos ataca a ferro e fogo, visto que defendemos tenaz e teimosamente o direito de existência de dois Estados.
Ela quer a violência, a morte de Israel. Não respeita sequer 6 milhões de mortos, cenário que deixou claro ao mundo, que os judeus precisavam de um Estado para finalmente terem segurança, após dois mil anos de perseguições. O professor Michel Gherman, um dos principais pensadores brasileiros de todo esse contexto atual, é agredido e perseguido vulgarmente por representantes desta esquerda arcaica e anti-humanista, que parece celebrar uma espécie de nostalgia com relação ao stalinismo, doutrina política marcada pela repressão e, é claro, pelo antissemitismo.
Mas obviamente não é apenas esta esquerda que se revela. A extrema-direita, inclusive a judaica, tem atuado na tentativa de impor a sua narrativa, proveniente do âmago do bolsonarismo. Dias atrás o professor Michel Gherman, convidado pela PUC do Rio de Janeiro a participar de um debate sobre o conflito no Oriente Médio, foi impedido de falar por um grupo de judeus de extrema-direita que ali estava unicamente com este fim: impedi-lo de falar.
O argumento era de que Gherman não os representava. Chegou a ser acusado de defender o Hamas, o que obviamente nunca fez. Limitou-se, como fazemos diariamente, a criticar e apontar erros, falhas e a desestabilização do Estado pelo governo israelense, como fosse um crime de lesa pátria. Nossa solidariedade é portanto total, absoluta, indiscutível. Gherman é um de nós e nos representa. Para esses judeus bolsonaristas, filhos daqueles que estiveram na Hebraica, rindo das piadas fascistas do ex-presidente, não se tem o direito de criticar Netanyahu, irmão de sangue de Trump e Bolsonaro.
A nosso ver, o melhor a fazer é que Netanyahu deixe o governo o quanto antes. Não se troca o líder durante uma guerra? Neville Chamberlain foi trocado por Winston Churchill, em maio de 1940, com o resultado que conhecemos. Da mesma maneira, o Hamas deve libertar – sem impor condições! – todos os reféns que estão em seu poder.
Nós, Judias e Judeus Sionistas de Esquerda, lutamos contra todos os extremistas de direita, inclusive judeus, os terroristas do Hamas, os antissemitas (inclusive os travestidos de defensores da causa palestina) e aquela autointitulada esquerda, que dedo em riste acusa Israel pela guerra e justifica o terror que bebeu o sangue israelense com pilhéria.
Coordenadores:
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