Quem vai ser nosso Anna Hazare?
Alguém sugere nomes? Não estou encontrando nenhuma sugestão, francamente.
Hazare, 71 anos, é um ativista social indiano. Ele acaba de encerrar uma greve de fome – “até a morte” – vitoriosa. O que ele reivindicava era uma legislação realmente efetiva contra a corrupção na Índia.
O Brasil vai mal nas listas mundiais de corrupção. Costuma ficar por volta da embaraçosa 60.a posição. Mas a Índia consegue ir ainda pior. Num levantamente recente, apareceu em 88.o lugar.
Hazare fez a greve de fome inspirado em seu ídolo, Gandhi. Seu gesto foi entusiasmadamente saudado por jovens indianos que foram às ruas apoiar a cruzada antiladroeira.
O governo indiano cedeu em tudo que Hazare exigia. Foi montado um grupo executivo contra a corrupção que terá poderes para examinar casos que envolvam políticos, juizes e outros detentores de poder.
São dez pessoas. Cinco delas são indicadas pelo governo. As demais vagas pertencem à chamada sociedade civil. O próprio Hazare está no comitê. O comando da equipe será duplo: alguém pelo governo, alguém pela sociedade.
É uma experiência que vale a pena acompanhar.
Termino o texto refletindo, mais uma vez, sobre quem poderia ser o nosso Hazare. Político não pode ser, por razões óbvias. Niemayer? Muito velho para uma ação mais radical como uma greve de fome. De resto, sendo um homem de esquerda, ele poderia achar que a campanha é da direita.
Tem que ser alguém de alta envergadura moral, e não vinculado nem à esquerda e nem à direita – mas à lisura, à transparência.
Em outros tempos, o rabino Henry Sobel seria um bom nome. Mas desde o episódio das gravatas subtraídas numa loja nos Estados Unidos falar em moralidade ficou meio complicado para ele. Onde as lideranças católicas como um dia foi Dom Paulo Evaristo Arns? Nesses momentos você vê o quanto o catolicismo encolheu no Brasil.
Temos ativistas sociais destacados, como Hazari?
Trinta segundos para pensar.
Hmmm.
Me rendo.
Caso alguém enxergue um candidato brasileiro ao papel de Hazare, manifeste-se, por favor.