Só o futuro poderá explicar como um vigarista como Eduardo Cunha pode, a esta altura, estar no comando de um processo tão importante para o país como o que trata do impeachment presidencial.
Não há explicação racional para que Cunha, diante de provas tão contundentes de roubalheira e achaque, não esteja na prisão.
A situação confortável de Cunha é, em suma, um fabuloso fracasso nacional. É o Brasil, coletivamente, que falhou miseravelmente na condução do caso de uma das maiores e mais claras vocações de corrupção da história do país, se não a maior.
No Roda Viva desta segunda, um entrevistador perguntou a Marco Aurélio Mello por que o STF não mandava –pelo menos – afastar Cunha.
Foi o único momento em que Mello não foi convincente. Ele juntou palavras sem oferecer uma resposta razoável.
Um país do tamanho e da importância do Brasil teria que dispor de proteções automáticas contra um tipo como Cunha. Na verdade, todos imaginávamos que as houvesse, mas não: como a realidade duramente mostrou estamos à mercê de psicopatas poderosos como ele.
Não haveria, em sociedade nenhuma minimamente avançada em todo o mundo, saída para Cunha depois que as autoridades suíças brindaram as brasileiras com evidências irretorquíveis de crimes do presidente da Câmara.
Era um homem morto andando.
Ele tinha profanado a Câmara ao dizer, pouco antes, que não tinha conta no exterior. Não tinha uma, mas várias.
Nada, nada e nada aconteceu com ele.
Delatores falaram, com terror nos olhos, das ameaças que sofreram para não citá-lo em suas delações. Até as famílias dos delatoras foram ameaçadas por paus mandados de Cunha.
A mesma história de ameaças foi contada depois por um deputado que seria o responsável pela comissão de ética que decidiria sobre o afastamento de Cunha.
Mais uma vez, nada, nada e nada.
Delcídio falou. E contou que a origem dos ataques devastadores de Cunha a Dilma estava no fato de que ela tirara homens dele de Furnas para moralizar uma empresa saqueada brutalmente.
Novamente, nada, nada e nada.
Era amplamente sabido que Cunha chantageava o governo em torno do pedido de impeachment formulado pela rainha da sanidade Janaína Paschoal e o nonagenário Bicudo.
Ninguém deu um passo para dificultar uma chantagem indecente, abjeta, feita à luz do dia.
Espasmos inúteis, patéticos, vergonhosos surgiram aqui e ali. Janot falou muito e fez pouco. Teori falou pouco e fez menos ainda. O governo ficou mudo e ficou parado como que à espera de um milagre.
À imobilidade destes se somou o oportunismo vil de homens como Aécio e FHC, e tudo isso foi coroado pela proteção suja que lhe foi oferecida pela mídia, a começar pela Globo.
Certas coisas podem ser definidas como fracassos nacionais. Os alemães falharam coletivamente com Hitler. Até hoje se envergonham ao falar do assunto.
Eduardo Cunha é um formidável malogro brasileiro.
Talvez o futuro encontre uma explicação para isso. No presente, ela não existe.
Um meliante que deveria estar no xilindró nunca esteve tão perto da presidência da República.
E nada, nada, nada acontece.