Sob as bênçãos de tia Vera Magalhães, Dallagnol passeou no Roda Viva

Atualizado em 30 de maio de 2023 às 7:18

Deltan Dallagnol deu um passeio nos jornalistas do Roda Viva nesta segunda-feira, dia 29.

Falou sem parar, naquele tom de superioridade moral que lhe é peculiar, inventando à vontade, tergiversando, desfiando números imaginários, eventualmente aos berros — tudo em velocidade alterada.

A moderadora Vera Magalhães agiu como a tia do deputado cassado, passando-lhe reprimendas carinhosas eventuais, e dando-lhe aqui e ali gentis palmadas no bumbum rosado. Ao final, ganhou uma charge simpática com um ataque a Alexandre de Moraes e a exibiu em suas redes como um troféu.

Agressivo, ele desafiou a bancada, a alturas tantas, a citar uma prisão preventiva “injusta” feita pela Lava Jato.

Ninguém foi capaz de responder uma banalidade dessas. Para ficar apenas num caso, houve o do então diretor financeiro da empreiteira OAS, Mateus Coutinho de Sá, retirado de sua casa aos 36 anos em 2014 por policiais federais e levado para a prisão em Curitiba (PR).

Foi torturado pela ausência da filha pequena. Penou com uma depressão profunda. Condenado por Sergio Moro por corrupção, lavagem de dinheiro e pertencer a uma organização criminosa, Coutinho foi absolvido por unanimidade pelos desembargadores da 8ª Turma do TRF-4. Saiu dois anos depois, destruído.

Questionado por Bernardo Mello Franco sobre seu apoio a Bolsonaro e à extrema-direita, Dallagnol entrou num looping sobre Lula, mentindo sobre a regulação da mídia e fazendo outras ilações descabidas — de novo, sem ser incomodado.

Para se defender do processo de cassação, mencionou artigo do velho amigo Merval Pereira e editoriais do Globo, Estadão e Folha.

Nessa amnésia geral, ninguém se recordou da frieza canalha do convidado diante da morte do reitor da UFSC, Cancellier, levado ao suicídio pela delegada Érika Marena, chapa de Deltan.

O editor do Intercept não conseguiu lançar mão de nenhuma das matérias da Vaza Jato. Seu melhor momento foi quando quis saber do cristão Dallagnol como era apoiar o que Bolsonaro fez na pandemia. “Não sou gestor público”, rebateu o sujeito.

O ápice do amadorismo foi a pergunta pueril de uma jornalista da Folha sobre um possível arrependimento por entrar na política. Minha mulher cantou a bola: ele vai falar que a única maneira de combater o “sistema” era por dentro do “sistema”. Batata.

Fez piadinha sobre o fato de estar pilhado. “Meu combustível é a indignação com a injustiça”, disse. Palmas pra ele!

Deltan Dallagnol sempre será amigo de jornalistas da mídia hereditária porque eles têm um ancestral comum: o antipetismo. Estará em casa, no final das contas. Por mais desembestado, tia Vera lhe dá um colinho.