Sob Bolsonaro, em 120 dias, o Brasil come o pão que o diabo amassou. Por Ricardo Kotscho

Atualizado em 30 de abril de 2019 às 12:31
Espírito de porco (imagem: reprodução internet)

PUBLICADO NO BALAIO DO KOTSCHO

Foram 120 dias que vão marcar a história do Brasil para sempre: antes e depois de Bolsonaro.

Nenhuma potência estrangeira seria capaz de promover no nosso país tamanha destruição em tão pouco tempo.

É uma verdadeira guerra de extermínio contra inimigos reais ou imaginários, para não deixar pedra sobre pedra da antiga civilização brasileira.

Os alvos principais são as mulheres e os gays, os professores e os aposentados, os sem terra e os defensores dos direitos humanos e do meio ambiente, os artistas e os intelectuais, as universidades e os estudantes, os índios e os negros, os jornalistas livres e todos os que tiveram a ousadia de conquistar a cidadania nos últimos anos.

Vivemos dias de cão, sem tréguas, desde a posse do tenente aloprado promovido a capitão, depois de ser reformado pelo exército por graves atos de indisciplina.

Sem nenhum programa de governo, Bolsonaro assumiu apenas com uma lista de vinganças:

  • contra os fiscais do Ibama que o multaram por pescar em local proibido no litoral fluminense.
  • contra os radares e os fiscais de trânsito que multaram sua família por variadas e graves infrações.
  • contra o movimento dos sem terra que ocuparam fazendas dos seus aliados das bancadas do boi, da bala e da bíblia.
  • contra o Mais Médicos, o Minha Casa Minha Vida e todos os programas sociais que melhoraram a vida dos mais pobres.
  • contra o movimento LGBT e o “paraíso gay”, sua obsessão dos tempos de deputado do baixo clero.
  • contra a procuradora-geral Raquel Dodge, que o denunciou ao STF por crime de racismo.
  • contra o “marxismo cultural”, uma fantasia delirante inventada para combater a Educação e a Cultura.
  • contra a política externa independente do Itamaraty que abriu o Brasil ao mundo.
  • contra os jovens negros que dançavam alegres num anúncio do Banco do Brasil.
  • contra todos os conselhos federais formados pela sociedade civil.

A lista é muito maior e não cabe neste espaço, mas os caros leitores poderão completar na área de comentários deste blog.

Como resultado dessa guerra ideológica insana, assistimos, impávidos, à liberação da posse e do porte de armas pelos proprietário rurais para estimular a guerra no campo; o avanço da miséria, da fome e do desemprego nas cidades e às ameaças para criminalizar movimentos sociais.

O governo do capitão é, acima de tudo, anticivilizatório.

É antieducação, anticultura, antinatureza, antisoberania, antisocial, antiprogresso, antidireitos, antidemocrático, antifeminismo _ antipovo, em resumo.

Quem vê o capitão discursando de improviso para plateias amestradas, nos palanques de onde ainda não desceu, falando aos berros, com os olhos injetados, ameaçadores, logo se lembra de Fernando Collor em seus últimos dias de agonia antes do impeachment.

O pior é que este governo ainda está só no começo e não há nenhum sinal de reação da sociedade e dos líderes da oposição, divididos e perdidos.

Como escreveu o Jânio de Freitas, domingo, na Folha, o Palácio do Planalto virou picadeiro de um circo de horrores.

A cada dia, apresentam um novo espetáculo grotesco, com pernadas, tuitadas e puxadas de tapete, envolvendo generais e filhos do presidente, bobos da corte e deslumbrados olavetes.

Se o governo não tivesse feito nada nestes quatro meses, estaríamos no lucro, mas é inesgotável sua caixa de maldades.

Alguém poderá perguntar: se o governo é contra tudo, é a favor do que, defende quem?

Basta ver quem bancou a vitória do capitão nas urnas: o mercado financeiro daqui e de fora, a turma do dinheiro gordo da Fiesp e os latifundiários, além dos seus fanáticos seguidores da extrema direita cabocla que continuam promovendo guerrilhas nas redes sociais.

É só para eles que Bolsonaro governa.  O resto que se vire nos 30.

Ainda bem que hoje é aniversário da minha neta caçula, a linda e capeta Olguinha, a única efeméride que tenho para comemorar neste dia.

E vamos que vamos. Para onde?

Vida que segue.