Sob Lula, aumento da renda deixa 20 milhões de pessoas fora do mapa da fome

Aumento de 11,7% nos rendimentos do trabalho e desaceleração dos preços de alimentos diminuem fome no país

Atualizado em 28 de março de 2024 às 18:23
Consumidores aproveitam promoção de ovos em supermercado no litoral norte e São Paulo. – Bianca Canada/Ato Press/Folhapressess

No ano passado, aproximadamente 20 milhões de cidadãos brasileiros foram retirados de uma situação de insegurança alimentar moderada ou grave, devido ao significativo aumento na massa salarial, juntamente com a revisão do programa Bolsa Família e a desaceleração dos preços dos alimentos.

De acordo com uma pesquisa realizada pelo Instituto Fome Zero, com base em dados da Pesquisa de Orçamento Familiar (POF) e da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua) do IBGE, foram identificados dois indicadores relacionados à fome: insegurança alimentar moderada, quando uma pessoa não consegue realizar três refeições diárias ou não se alimenta adequadamente, e insegurança alimentar grave, quando alguém passa um ou mais dias sem comida, em uma situação de fome.

O estudo revela que o número total de pessoas em situação de insegurança alimentar moderada e grave diminuiu de 65 milhões para 45 milhões entre o quarto trimestre de 2022 e o mesmo período de 2023. Além disso, o número de pessoas exclusivamente em situação de insegurança alimentar grave diminuiu de 28 milhões para 20 milhões no mesmo período.

Considerando um período um pouco mais amplo, a partir do primeiro trimestre de 2022, a pesquisa indica que cerca de 13 milhões de brasileiros deixaram de enfrentar fome.

José Graziano, ex-diretor da FAO. Reprodução

Segundo José Graziano, diretor-geral do Instituto Fome Zero, os dados da pesquisa são preliminares, aguardando a divulgação completa da Pnad Contínua de 2023 pelo IBGE. No entanto, eles fornecem um indicativo positivo do que aconteceu, com dados sólidos que indicam uma melhoria maior do que a esperada.

Um fator crucial para essa redução na insegurança alimentar no ano passado foi o aumento real na massa salarial, que ultrapassou a inflação em 11,7%, o maior desde o Plano Real, de acordo com cálculos do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), baseados na Pnad Contínua do IBGE.

Marcelo Neri, diretor da FGV Social, estima que a renda real domiciliar per capita aumentou 12,5% em 2023, considerando o rendimento das famílias dividido pelo total de membros. Ele também sugere que a taxa de pobreza do país provavelmente apresentará uma queda significativa quando os dados completos da Pnad Contínua de 2023 estiverem disponíveis.

Além do aumento da renda, contribuíram para essa melhoria os gastos substanciais realizados pelo ex-presidente Jair Bolsonaro em sua campanha pela reeleição e por Luiz Inácio Lula da Silva com a PEC da Transição, no valor de R$ 145 bilhões. Também houve a recomposição do Bolsa Família, que passou a pagar R$ 600 por família, além de um acréscimo de R$ 150 por criança até 6 anos, e melhorias no mercado de trabalho.

Graziano destaca também o impacto positivo do aumento real do salário mínimo, que, segundo o Ipea, foi cerca de 4% acima da inflação em 2023. Ele argumenta que, além de aumentar o poder de compra daqueles que recebem o salário mínimo e de 26 milhões de aposentados que recebem valores semelhantes pelo INSS, esse reajuste tende a elevar outros salários, inclusive no setor informal.

Desaleração do aumento dos alimentos e aumento da renda fazem com que a fome diminua. Reprodução

José Giacomo Baccarin, outro autor do trabalho do Instituto Fome Zero, ressalta o efeito benéfico da menor aceleração dos preços dos alimentos na redução da insegurança alimentar. Ele observa que, embora os preços dos alimentos tenham subido nos últimos quatro anos, a alta foi mais significativa entre 2020 e 2022, tendo havido uma desaceleração em 2023.

Essa desaceleração, juntamente com o aumento da renda, contribuiu para a redução da insegurança alimentar no ano passado. No entanto, ele alerta que é necessário relativizar os acontecimentos de 2023, uma vez que os preços ainda não retornaram aos níveis de 2019 e não se pode afirmar com certeza se uma nova tendência de queda nos preços dos alimentos começou, pelo menos como um fenômeno de longo prazo.

 

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