O jornalista Ricardo Noblat, da Globo, tem perdido boas chances de não falar nada.
Primeiro, na sabatina do Globo com Dilma, Noblat sugeriu a ela que falasse menos porque assim os entrevistadores poderiam falar mais.
Agora, ele em sua conta no Twitter caluniou os blogueiros independentes que entrevistaram Dilma ontem. Disse que eles são pagos pelo PT.
O DCM, que participou da entrevista com o diretor-adjunto Kiko Nogueira, só não processa Noblat porque sabe como as coisas funcionam na Justiça brasileira.
Nos orgulhamos de nosso absoluto apartidarismo, ao qual se junta uma transparência inexpugánel. Sem isso, você não faz jornalismo decente.
Jamais recebemos nada – repito: nada – do PT. Nossas reportagens mais custosas, como a do helicoca, foram bancadas pelos nossos leitores.
Com mais de 2 milhões de visitantes únicos por mês, e na condição de um dos mais florescentes sites de notícias brasileiros, estamos agora montando nossa área comercial.
O modelo de negócio dos sites, em todo o mundo, se consagrou como baseado em publicidade.
Estamos, neste momento, apresentando o DCM a agências e anunciantes – privados e estatais.
É uma batalha dura.
No âmbito das estatais, a concentração de anúncios nas mídias tradicionais é avassaladora. A partilha não reflete a brutal migração de público para a internet.
Só recentemente a Secom, que supervisiona a publicidade federal, determinou que fosse dada mais atenção à mídia digital, para acompanhar o movimento de uma sociedade que cada vez mais se informa e se entretém pela internet.
Quem vem se beneficiando deste descompasso são exatamente empresas como a Globo, de Noblat.
Todos os anos, as estatais têm colocado cerca de 600 milhões de reais na Globo – uma cifra que se mantém a despeito das sucessivas quedas de audiência da emissora.
No bolo da publicidade, a internet hoje tem cerca de 20% do total no Brasil. É bem menos do que em países como Estados Unidos e Inglaterra, nos quais já se passou da marca de 40%.
Na maior parte das estatais brasileiras, os investimentos em publicidade digital ainda estão na casa dos 5%, ou até menos.
Logo, se há empresas que se dão bem com publicidade governamental, elas são exatamente aquelas simbolizadas por colunistas como Noblat.
Não vou falar aqui em outras formas tradicionais de angariar dinheiro público, municipal, estadual ou federal, como a venda de livros.
Vou passar ao largo também de financiamentos de bancos públicos, uma prática corriqueira na história da mídia nacional.
Se há um setor para o qual se impõe um “desmame” oficial, para usar a expressão de um mentor econômico de Marina, é exatamente a mídia.
Não bastassem todas as vantagens, as empresas nacionais gozam ainda de uma absurdamente anacrônica reserva de mercado. Se Murdoch decidisse investir no Brasil, toparia com uma legislação que lhe vedaria o controle de uma companhia jornalística.
Num antológico artigo em que defendeu a reserva, o então advogado da associação que faz o lobby da Globo Luís Roberto Barroso, hoje no STF, afirmou que com ela, a reserva, evitaríamos o risco de uma emissora chinesa instalada no Brasil fazer propaganda do maoísmo.
Disse, também, que a reserva protege o patrimônio cultural representado pelas novelas.
Sobre a entrevista em si dos blogueiros com Dilma, ela não foi mais amistosa que a do Bom Dia Brasil com Marina, definitivamente.
E nem o objetivo era o conflito. O propósito era ouvir Dilma sobre pontos importantes da agenda nacional, e não estabelecer uma competição sobre quem falava mais, como fizeram em diversas ocasiões jornalistas da Globo.
Neste sentido, foi a primeira vez que Dilma se pronunciou, com clareza, sobre a regulação da mídia. Se você não admite monopólios e oligopólios em todos os setores da economia, por que na mídia é diferente?
A Globo, pelas suas variadas mídias, fez sucessivas sabatinas com Dilma. Nenhum jornalista – repito: nenhum – perguntou sobre a regulação.
Só isso, este silêncio sepulcral sobre um tema vital para a sociedade, já justificaria um exame profundo sobre o papel e os limites da mídia.
Noblat talvez não saiba, mas parte do dinheiro que a Globo lhe paga – e a outros colunistas como Jabor, Merval e Míriam Leitão – deriva do governo.
Por tudo isso, a melhor coisa que ele poderia fazer sobre a conversa de Dilma com blogueiros independentes – fora assistir – é manter um espesso silêncio.
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