Não me lembro de ter lido reflexões sobre a felicidade tão interessantes quanto as que encontrei em O Novo Século, de Eric Hobsbawn.
Que o dinheiro é pateticamente limitado como fornecedor de contentamento, sabemos todos, ou deveríamos saber. Numa sociedade que estimula ferozmente a competição como a nossa, podemos estar bem, mas se nosso vizinho estiver melhor é uma tragédia.
Se você está por cima, vive apavorado com a possibilidade de ser passado para trás, não importa o tamanho de sua fortuna. Numa biografia de Michael Jackson, o autor notava o pânico que o assaltava diante da possibilidade de Madonna vender mais discos que ele.
Mas Hobsbawn aponta um fator de infelicidade para o qual eu não tinha ainda atentado. Antes, as pessoas morriam cedo ou viviam saudavelmente muitos anos. Agora, a medicina empurra a média de vida ao preço de condições precárias físicas, ou mentais, ou ambas.
“A ampliação da vida para além dos limites bíblicos – a Bíblia define o período de vida dos seres humanos em 70 anos e, até a década de 1970, a maioria das pessoas manteve-se nesse teto – está enchendo o mundo de gente com 80 ou 90 anos”, diz Hobsbawn. “Desse ponto de vista uma vida mais longa não é nenhuma garantia de felicidade.”
Quem não tem histórias tristes para contar a esse respeito? Não à toa, Júlio César dizia que a maior bênção que os deuses podem conceder a um mortal é uma morte rápida.
Até um certo ponto, a manutenção da vida pela medicina faz sentido. Depois, não.
Essa é uma discussão que a sociedade tem que enfrentar, por mais penosa que seja.