Que você faz quando uma faixa da sociedade está miseravelmente representada nas diretorias das empresas?

Considere a Noruega.

Num certo momento, ficou claro que as mulheres estavam sendo discriminadas nas posições executivas. Eram poucas, ridiculamente poucas, ainda mais num dos melhores países do mundo para ser mulher. Nas palavras de uma autoridade local, tratava-se do “paradoxo norueguês”.

(A Escandinávia, se você pesquisa as listas, é um dos melhores países para todo tipo de gente – homens, mulheres, imigrantes etc. Não é à toa que a missão do DCM é lutar por um Brasil Escandinavo.)

Bem, o que se fez lá diante da constatação: foi criada, em 2004, uma cota para mulheres nas diretorias das corporações. Quatro entre dez diretores teriam que ser mulheres.

Tudo do jeito competente nórdico: prazos razoáveis e coisas do gênero.

Houve a previsível gritaria corporativa, aquele alarmismo que se espera nestas situações: as empresas vão quebrar, diziam os adversários do projeto.

Aos gritos se seguiu uma resistência muda à cota feminina. Dois anos depois da criação da lei, as mulheres ocupavam apenas 18% dos cargos de direção.

E então o governo decidiu agir com rigor: se as corporações não atingissem rapidamente os 40% elas poderiam ser até fechadas, simplesmente. Em 2009, todas as empresas tinham cumprido a cota.

Passada quase uma década, o caso norueguês é modelo na Europa, e os vaticínios catastrofistas se revelaram estapafúrdios.

Cheias de mulheres em cargos executivos, as empresas norueguesas vão muito bem.

Contei esta história depois de ver, na Exame, que apenas 5% dos cargos de direção nas empresas brasileiras são ocupados por negros.

É uma humilhação não para os negros – mas para a sociedade como um todo. Mostra quanto somos racistas, apesar dos tapinhas nas costas que damos nos nossos amigos negros.

É hora de agir.

Esperar que as empresas brasileiras se movimentem é inútil.

O segredo do sucesso norueguês foi o fato de os 40% serem mandatórios, e não facultativos.

O que se fez pelas mulheres na Noruega, para corrigir uma injustiça corporativa, deve ser feito pelos negros no Brasil.

Já.

Ficamos chocados quando vemos que negros vivem tão menos que os brancos, e em condições tão abjetamente inferiores.

É brutal a proporção de negros entre as vítimas de assassinatos no Brasil, como mostram diversos estudos.

Nada disso é imutável. Nenhuma melhora é impossível.

Um passo para reduzir o drama negro no Brasil seria forçar as empresas a ter uma cota de negros em sua direção.

Ah, não há negros com formação escolar suficiente para isso?

Então o Brasil talvez acorde, finalmente, para a necessidade de proporcionar educação gratuita de alto nível para seus desvalidos – a maior parte dos quais composta de negros.