Publicado originalmente no perfil de Facebook do autor
POR LUIS FELIPE MIGUEL, professor da UnB de ciência política
Dando pitaco numa eleição que não é minha: a acreditar nas pesquisas, o Rio de Janeiro tem a chance de eleger um senador do PT e outro do PSOL. Se a disputa pelo governo do estado parece até agora concentrada em três encarnações do atraso, a despeito das valorosas candidaturas de Tarcísio Motta e Márcia Tiburi, para o Senado aparecem quatro candidatos empatados com 17 ou 18% das intenções de voto.
Parece óbvio unir forças para eleger Chico Alencar e Lindbergh Farias. Sei que as relações entre PT e PSOL no Rio são particularmente tensas – na verdade, por paradoxal que possa parecer, desde antes do surgimento do PSOL, dado o histórico do PT fluminense de marginalizar seus setores mais independentes e combativos em nome de algo que, por gentileza, vou chamar de “pragmatismo eleitoral extremo” (às vezes por iniciativa própria, às vezes por imposição da direção nacional). Sei também que nem Lindbergh nem Chico são imunes a críticas. E que alguns militantes do PSOL julgam que é dever de lealdade combinar a candidatura de Chico Alencar com a de Márcia Barçante, do PCB, que compõe a coligação – uma candidatura que, independentemente dos méritos da candidata, tem zero chance de vitória. Mas tanto Chico quanto Lindbergh têm estado na linha de frente da luta contra o golpe e os retrocessos e demonstram o desejável compromisso básico com a democracia, os direitos e a soberania nacional. De quebra, a vitória deles significará a derrota de dois dos piores nomes que estão à disposição do eleitorado hoje: o patriarca do atraso e o filhote da ignorância.
Parece lógico apoiar Lindbergh Farias e Chico Alencar ao senado. Quisera eu ter situação semelhante no DF, onde os candidatos favoritos ao Senado oscilam entre o péssimo e o pior ainda.
Tem uma questão, no entanto, que me incomoda – e que eu gostaria de entender. Compreendo e respeito, embora discorde, quem resiste a apoiar um ou outro dos candidatos por causa do histórico de desavenças partidárias ou de vacilos em suas trajetórias políticas. Mas tenho visto muita gente argumentar que “votar em Chico é impedir a vitória de Lindbergh” ou, inversamente, “votar em Lindbergh é impedir a vitória de Chico”. Como o eleitor tem dois votos para o Senado, dois votos não cumulativos, isto é, que necessariamente têm que ser dados para candidatos diferentes, não vejo como é possível que a opção por uma chapa Chico-Lindbergh possa prejudicar qualquer um dos dois. Pelo contrário, é a estratégia que parece mais racional para ambas as candidaturas. Pergunto (e a pergunta não é retórica): existe alguma peculiaridade na disputa do Rio de Janeiro que faça com que tenha sentido o argumento de que votar em um impede a vitória do outro?