Sobre o estrangulamento da chef Nigella pelo marido milionário

Atualizado em 18 de junho de 2013 às 15:07

O que este caso conta sobre relações abusivas.

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A chef Nigella passou maus momentos num almoço com o marido

O texto abaixo é de autoria da jornalista Julia Duarte.

Violência doméstica não é apenas aquilo que acontece dentro da sua casa e ninguém vê. É qualquer ato violento cometido pelo seu parceiro, seja você casada ou não.

A chef inglesa Nigella Lawson foi sufocada pelo marido milionário Charles Saatchi, colecionador de arte, em um restaurante em Mayfair, bairro nobre de Londres.

(Aqui, a história.)

A explicação do marido não surpreende: disse que estava apenas querendo dar ênfase do seu ponto de vista com relação aos filhos.

Enforcando a mulher em plena luz do dia?

O abuso cometido em local público torna a humilhação ainda maior.

Nigella é bonita e bem-sucedida. E o que a sociedade espera dela é o seguinte: mulheres ricas não têm o direito de serem infelizes pelo simples fato de terem privilégios que poucas têm.

É uma atitude irrealista da sociedade e, principalmente dos maridos, esperar que a mulher rica não se aborreça, além de ser também desrespeitosa.

Nigella uma vez pediu desculpas publicamente quando não devia. Ela perdera o primeiro marido e a ideia de estar feliz era, para ela, imperdoável.

Depois de nove meses da morte por câncer de seu então marido, o jornalista John Diamond, ela se casou novamente com Saatchi.

Ele escreveu um livro cujo título diz bastante. “Be the worst you can be: life´s too long for Patience & Virtue”. Seja o pior que você pode ser: a vida é muito longa para Paciência e Virtude.

Ninguém deve se desculpar pelas próprias escolhas porque muitas vezes somos os únicos a lidar com as consequências.

Mas a pergunta que fica é: por que as mulheres independentemente de idade, credo, raça, classe social ou religião têm dificuldade em largar relações abusivas?

São casos em que permanecer na relação é mais simples? O famoso é mais fácil começar do que terminar. Muitas mulheres temem a possibilidade de, deixando a relação, nunca mais ver os filhos.

O medo entra como fator decisivo e se torna maior do que a vontade de ir embora.

A ligação entre violência doméstica e carência é tênue.

Mulher carente e com medo de ficar sozinha simplesmente aceita o que vier, é um troféu social ser casada.

Baixa autoestima pode ser outra boa resposta à pergunta. Autoestima tem muito a ver com o juízo de valor que fazemos de nós mesmos.

Se a nota que nos damos é baixa, nos sentimos inferiores ao outro. Se ela é muito alta, pode ser confundida com arrogância.

Controlar o looping desta montanha russa emocional é tarefa difícil, mesmo para os mais maduros emocionalmente.

Ficam à mercê de elogios e críticas para fazer a autoavaliação.

O homem abusivo tem apenas uma intenção bem definida, a de colocar a mulher para baixo e afastá-la de tudo que realmente é importante: saúde, trabalho, família e amigos.

Não importa se o abuso é físico ou verbal, o resultado final pode ser catastrófico.

Quando não termina em morte, as feridas que demoram a cicatrizar vão além do físico, são as psicológicas. A faxina emocional é lenta e dolorosa. Bem maior do que o luto de terminar uma relação.