O sociólogo Henrique Restier compartilha em suas redes sociais não apenas momentos da rotina de suas duas filhas, Manuela e Ana Flor, mas também reflexões sobre o lugar ocupado pelo homem negro no Brasil.
Doutor em sociologia pelo Instituto de Estudos Sociais e Políticos (Iesp/Uerj), Restier utiliza o espaço virtual para abordar questões como “o Ministério da Igualdade Racial está se tornando o Ministério das Mulheres Negras?” e “e eu não sou um homem?”, em alusão à frase de Sojourner Truth, abolicionista e ativista afro-americana que fez o famoso discurso “e eu não sou uma mulher?” em 1851 para mulheres brancas.
Em entrevista à Folha de S.Paulo, Restier disse que os homens negros têm sido hostilizados pelo Ministério da Igualdade Racial (MIR), comandado por Anielle Franco.
Questionado sobre qual é o lugar ocupado atualmente por homens negros no país, o sociólogo afirmou que a discussão não tem sido feita, do seu ponto de vista, da maneira que deveria. “Grande parte dos trabalhos hoje de relações raciais fala das pessoas negras em geral ou então traz o gênero feminino, as mulheres negras. Dificilmente tem estudos, pelo menos no meu campo —da psicologia e da ciência social— sobre o gênero masculino”, apontou.
“Se você pega o indicador socioeconômico ligado aos quatro grupos principais —mulheres e homens brancos e mulheres e homens negros—, o homem negro tem os piores índices educacionais, de evasão escolar, de expectativa de vida, de violência. […] O que defendo é que os homens negros sejam uma categoria de análise, uma categoria que tenha legitimidade para ser estudada”, acrescentou.
Restier destacou a ausência do homem negro como foco nas políticas afirmativas. “As mulheres negras não só estão nesses espaços como têm tido primazia nas ações desenvolvidas pelo MIR, inclusive com políticas exclusivas, sem a devida contrapartida para os homens”, disse.
O sociólogo ressaltou a importância do avanço das mulheres negras na sociedade, mas afirmou que é preciso “debater esse gênero [masculino] que é o mais atingido por essas violências”. “Se estar na base da pirâmide social é ter menos acesso ao direito à vida, os homens negros estão na base da pirâmide, porque eles são os que mais morrem, têm a menor expectativa de vida”, declarou.
“Não quero competir, quem está na base, quem está em cima. Quero me encontrar com os fatos, com os fenômenos sociais. Por quê? Porque, com isso em mãos, a gente tem mais lucidez para resolver as questões da população negra”, completou.