Sociólogo Emir Sader avalia que Bolsonaro perdeu a serventia para a elite e deve cair

Atualizado em 26 de fevereiro de 2019 às 11:06
Jair Bolsonaro e Ricardo Vélez Rodríguez. Foto: Agência Brasil

O sociólogo Emir Sader avalia que Jair Bolsonaro já está com seu prazo de validade vencido. “Em algum momento, o Bolsonaro vai ser substituído. Ele já não é mais necessário. O governo está montado. Tem os militares, tem o Guedes, tem o Moro. Agora ele é um obstáculo para a exequibilidade das coisas. Não sei como ele vai reagir. Deve estar se discutindo não o porquê, mas o quando e como”, disse, em entrevista ao DCM Café da Manhã nesta terça-feira, 26 de fevereiro.

Para Emir Sader, o tempo de duração de seu mandato será a reforma da Previdência. “A reforma da Previdência vai ser um teste. Vai mostrar se, apesar dessas fraquezas todas, eles têm coesão e força para aprovar”, disse.

Apresentada como a salvação da pátria, a reforma da Previdência é, na opinião dele, um engodo, mas tem força simbólica. “É um bode expiatório. O Gudes fala em dez anos de crescimento. É uma mentira. A Argentina aprovou a reforma da Previdência e está na pior recessão. O PT fez a economia crescer como nunca sem reforma da Previdência, sem tirar direitos. Então, é tudo mentira’, afirmou.

No entanto, mostrará a força do governo eleito há apenas quatro meses. “Se as trapalhadas todas não forem obstáculo, pode ser que ele (Bolsonaro) se prolongue por mais algum tempo. Se não conseguir a aprovar, vai ser a ideia de que ele é um obstáculo, não tem coesão parlamentar, prestígio, legitimidade”, analisou.

Bolsonaro poderia se tornar uma espécie da Rainha da Inglaterra?

Na opinião de Emir Sader, difícil.

“Ele mesmo não tem se mostrado um cara razoável para conseguir apaziguar os filhos. Agora, um deles (Eduardo Bolsonaro) foi aos Estados Unidos falar que o povo brasileiro apoia o muro que separa os Estados Unidos da América Latina. Até a Miriam Leitão reclamou. Bolsonaro não tem a razoabilidade de brecá-los para poder ser uma Rainha da Inglaterra. Precisaria que o Príncipe Charles não fizesse tantos escândalos públicos, e os três lá parece que não se resignam a isso”, analisou.

Com Bolsonaro no poder, sustentam-se também os ministros folclóricos, como Ricardo Vélez Rodrígues, da Educação, Ernesto Araújo, das Relações Exteriores, e Damares Alves, da Mulher, Família e Direitos Humanos.

No entendimento de Emir, um deles deveria cair imediatamente. É o responsável pela Educação, que, em entrevista, chamou os brasileiros de ladrões.

“Ele (Ricardo Vélez Rodríguez) ofendeu o povo brasileiro, precisa ser deposto. Já não tem possibilidade desse cara ser ministro da Educação. O Ministério está totalmente paralisado, seja porque ele colocou seis alunos dele lá, seja porque ele colocou uma turma de militares que não tem nada a ver com a quantidade de programas educacionais que o Brasil tem. Ele está travando uma atividade essencial do governo brasileiro. Antes de tudo, tem que ser deposto. Expulso ou não (do país),  vamos ver. Ele não entende do Brasil, ele faz declarações estapafúrdias, em termos ideológicos, teóricos, e está tentando impor a chamada escola sem partido. Só que esta é a mais ideológica de todas. Está querendo que os alunos, na aula, recitem o bordão do Bolsonaro. Isso é escola sem partido? Esse cara não poderia continuar no Ministério da Educação”, comentou.

Emir Sader está lançando o livro “Lula e a Esquerda do Século XXI”, em que avalia a situação que levou à eleição de Jair Bolsonaro e compara o destino de Lula ao do Brasil.

“O destino de Lula e do Brasil praticamente se confundem. Sua prisão é a expressão pessoal do regime de exceção que se instalou no país. Um regime que não consegue conviver com Lula livre, dirigente popular, expressando suas visões e suas propostas para o Brasil. E de alguma forma, o destino de Lula e da esquerda no século XXI se identificam”, escreveu.

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Segue a entrevista em vídeo: