Por Igor Carvalho
O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), lançou na última quinta-feira (13) uma plataforma de monitoramento do número de usuários de drogas que frequentam a região conhecida como Cracolândia, na região central da capital paulista.
No mapa, os paulistas podem acompanhar quantas pessoas passaram pelo “fluxo”, como é conhecida a concentração de dependentes químicos que circula pela região, e também quais os crimes cometidos no local. De acordo com o Palácio dos Bandeirantes, o governo divulgará dados sobre as ações policiais e a quantidade de drogas apreendidas em operações na área.
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A medida é mais um recado público que o governo de Freitas oferece à sociedade, de que tratará a Cracolândia e a dependência química como questões de segurança e não como uma questão de saúde pública.
“É um mapa que se debruça sobre a ideia de demonstrar o trabalho de segurança pública, o que mais uma vez vai de encontro com nossa crítica, já que não consideramos a segurança pública a melhor ferramenta para se utilizar no território, já que sabemos que o problema é de assistência social e da saúde”, lamenta Amanda Amparo, antropóloga e doutoranda da Universidade de São Paulo (USP), que estuda a região desde 2014.
Ainda de acordo com Amparo, o governo deixa sinais com o lançamento da plataforma. “A ideia ali, apresentando os dados onde as pessoas foram assaltadas e a localização das pessoas do fluxo, é uma escolha política, de comprometer as pessoas do fluxo com a ideia de que elas cometem crimes. Não estou dizendo que elas não cometem, mas não dá para provar, não tem como afirmar que uma carteira roubada na região tenha sido um crime cometido pelas pessoas do fluxo. A ideia é criminalizar as pessoas do fluxo.”
O cidadão que se engajar na plataforma perceberá que o governo listou 17 crimes diferentes para a região, como vidros quebrados, furto e roubo de celulares, pedestres, motoristas de aplicativos e comércios.
Segundo o mapa lançado pelo governo, a média registrada na quinta-feira foi de 898 pessoas que teriam passado pelo fluxo, com pico de 1.326 durante o período da tarde e começo da noite.
Para Amparo, Tarcísio de Freitas quer “promover o discurso do caos social para criar pânico” e facilitar a “ideia de que a internação compulsória é necessária”.
Por fim, a antropóloga criticou a plataforma na função que o governo considera primordial, que é monitorar o fluxo. “São as operações policiais que fazem o fluxo se mover. Esse georreferenciamento passa a ideia que as pessoas são autônomas e se locomovem por vontade própria, mas não é verdade, a Segurança Pública é a responsável pela posição do fluxo”, finaliza.
Publicada originalmente no Brasil de Fato