Publicado originalmente em Brasil de Fato:
Por José Eduardo Bernardes
O dirigente do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), João Pedro Stedile, ressalta a adesão de setores vinculados à direita brasileira ao pedido de impeachment de Jair Bolsonaro. Para Stedile, a presença de alas do PSDB na preparação para os atos do último sábado (3) e também da participação de alguns tucanos nas manifestações, revela que “está caindo a ficha para todo mundo”.
“Todo mundo sabe que o PSDB, o governador João Doria, apoiou a candidatura do Bolsonaro. Eles são responsáveis por isso que está aí. E são bem-vindos, porque fizeram autocrítica e agora estão se somando ao ‘Fora, Bolsonaro!’”, aponta o dirigente.
Eleito em 2018 pelo Partido Social Liberal (PSL), partido, até então, sem quadros nacionais, Bolsonaro teve grande apoio do empresariado e de legendas de centro e de direita do Congresso Nacional para garantir sua chegada à Presidência da República. Agora, segundo Stedile, essas forças começam a se virar contra o presidente.
“Espero que outros setores também da burguesia se somem, porque o Bolsonaro não tem força própria, ele é a expressão da força da burguesia e, em tempos de covid, se a burguesia criar coragem, ela tem força suficiente para afastá-lo”, diz.
Para o dirigente, os atos do último sábado (3) também foram importantes para criar um clima na sociedade de que “ninguém aceita mais” o governo de Jair Bolsonaro. Stedile lembra que a CPI é outra vertente importante para desgastar a imagem bolsonarista, ao revelar os desvios e omissões do governo na pandemia
“Todo mundo sabia o método Bolsonaro, a turminha dele e da família que são corruptos, inclusive, o patrimônio pessoal que eles têm certamente tem origem nas rachadinhas. E agora ficou mais claro com a CPI do Senado, o governo paralelo que eles montaram, o orçamento paralelo, os R$ 20 bilhões que liberaram de emendas para o centrão aprovar a privatização da Eletrobrás”
Fome
A pandemia de covid-19 forçou diversas cidades a interromperem suas atividades. Com o fechamento de vários postos de trabalho, muitas pessoas ficaram sem alternativas para garantir seu sustento. Para alterar essa regra, movimentos populares, como o MST, se somaram em ações de solidariedade por todo o país e distribuíram toneladas de alimentos.
No entanto, Stedile denuncia que não foram os lockdowns, os responsáveis pelo país voltar ao Mapa da Fome e chegar ao triste número de 115 milhões de pessoas em insegurança alimentar.
“O governo Bolsonaro simplesmente abandonou todas as políticas, que ajudavam à agricultura familiar e camponesa como era o PAA (Programa de Aquisição de Alimentos), PNAE (Programa Nacional de Alimentação Escolar), etc. E colocou todo o apoio para o agronegócio, o agronegócio nunca ganhou tanto dinheiro como agora em plena crise”, explica Stedile.
O dirigente ainda lembra que mesmo os agricultores familiares que resistiram ao desabastecimento de programas importantes para o setor, encontram resistência na comercialização dos produtos.
“Há um funil na comercialização em que apenas 50 empresas controlam o comércio de alimentos no Brasil. E eles colocam o preço que querem. O agricultor vende o leite por R$ 1 e você vai na padaria e paga R$ 3. Essa diferença fica com a Nestlé e com grandes empresas que controlam de forma oligopólica o comércio de alimentos e lá na ponta do consumo a outra tragédia que completa o cenário”, completa.