O final de semana em São Paulo foi marcado por episódios protagonizados por supremacistas de ultra direita. Um homem foi agredido por um grupo de pelo menos 10 homens na frente de um bar no bairro de Pinheiros, zona oeste da cidade. Na região central, foi relatada a presença de neonazistas de fora do Brasil que estariam no país fazendo integração com células locais.
No sábado (20/11), o músico Dennis Sinned, de 38 anos, iria se apresentar no Bomber Pub, bar frequentado por punks e antifascistas. Antes do show, ele estava junto com um amigo em frente ao estabelecimento quando cerca de dez pessoas foram em direção à dupla e os atacaram com socos, pontapés e garrafadas. “Levei chutes na cabeça e no tórax. Ouvi eles dizendo pra chutar na cabeça. Meu amigo recebeu garrafadas, mas conseguiu entrar rapidamente dentro do bar. Eu fiquei na calçada apanhando”, lembra Dennis.
O músico, que teve seu telefone celular quebrado e vários ferimentos pelo corpo, relatou o ocorrido nas redes sociais. Ele revela que prestou queixa no 14º DP (Pinheiros), mas tem medo de dar mais detalhes sobre o episódio. “Ainda estou resolvendo essa parte das medidas legais e estou um pouco assustado. Recebi ameaças”, conta.
Vítima dos ataques, Dennis acredita que o ataque tenha sido premeditado, já que o evento era público, sua banda é abertamente antifascista e dias antes o local do show tinha sido pixado como suásticas. “Infelizmente tem crescido essa onda neonazista no país. O discurso e a ideologia do presidente dão força pra esse tipo de ataque. Estamos vivendo um momento muito triste na nossa história. Regredimos muito”, lamenta o músico.
Os responsáveis pelo Bomber Pub informaram que estão tomando medidas para preservar as pessoas agredidas e relatar às autoridades policiais. Procurada, a Secretaria de Segurança Pública não se manifestou sobre o caso até o momento.
O crescimento da onda neonazista no Brasil é comprovado em números. Segundo dados da ONG Safernet, em 2019 foram contabilizadas 1.071 denúncias anônimas de neonazismo na internet brasileira, envolvendo 544 páginas. Um ano depois, esse número subiu para 9.004 denúncias anônimas e 3.884 páginas, destas, 1.659 foram removidas.
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Combatidos na Alemanha, motoqueiros supremacistas estão no Brasil
O Gremium Motorcycle Club é um grupo surgido na Alemanha no início dos anos 1970 e desde 1988 está proibido de manter atividades pelo pelo ministério do interior de Baden-Württemberg sob acusação, dentre outras coisas, de tráfico humano, narcotráfico e prostituição ilegal. O grupo é caracterizado por usar as cores preta e branca, os termos “black seven” e o número “7667”, coletes com o nome do país em que seus integrantes fazem parte, a imagem de um punho subindo por entre as nuvens, além da cruz de ferro, conhecido símbolo nazista.
Uma célula desse grupo existe no Brasil. Mais especificamente na Vila Matilde, bairro da zona leste de São Paulo, o grupo denominado GP/MC São Paulo Brasil costuma se encontrar em um estúdio de tatuagem e em uma barbearia, como mostram as fotos que o grupo publica em suas redes sociais. Cerca de 15 integrantes estrangeiros do Gremium estão em São Paulo hospedados em um hotel na Rua Augusta, depois de terem passado pela Colômbia e pelo México.
“Eu fiquei assustada com a quantidade de células que esse grupo tem espalhado pelo mundo e quantidade de pessoas que participam desses grupos. Eles têm membros desde a Tailândia até o Brasil”, explica a jornalista Letícia Oliveira, que monitora grupos supremacistas e neonazistas no Brasil.
Outros grupos de motociclistas estariam fazendo a recepção e segurança desses estrangeiros em São Paulo. Há relatos de que o grupo teria tentado agredir pessoas na região da Praça Roosevelt, local próximo do hotel onde estão hospedados. Dennis afirma que os seus agressores não eram estrangeiros, pois escutou pessoas falarem em português enquanto batiam nele. “Tinham uns homens armados esperando no carro que não entraram na briga”, relembra.
Especificamente, esse tipo de grupo não se apega tanto ao discurso de raça pura como havia no nazismo pregado por Adolph Hitler durante a primeira metade do século XX, mas a pauta do supremacismo, por isso tem maior adesão em países periféricos fora da Europa.
“O Brasil tem uma tradição de fascismo. O maior movimento fascista fora do continente europeu foi o integralismo brasileiro. O projeto de Bolsonaro é supremacista e eles vêm isso com bons olhos. Mesmo não sendo, essas pessoas que entram nesses grupos consideram que fazem parte de uma elite branca”, explica Letícia Oliveira.
Publicado originalmente pela Ponte
Por Gil Luiz Mendes
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