Ainda não se sabe o tamanho do estrago, mas a primeira fissura já foi aberta: Tabata Amaral pode atrapalhar o namorado, Joao Campos, se insistir na defesa de pautas antipopulares na eleição. Nesta semana, a deputada chiou quando o PSB anunciou a intenção de filiação de Geraldo Alckmin e selou a aliança com o PT – o ex-governador de SP será candidato a vice na chapa de Lula.
Tabata, que já havia votado contra os interesses dos trabalhadores na reforma da Previdência, agora sinaliza que é contra também uma das principais bandeiras já anunciadas por Lula: a contra-reforma trabalhista, inspirada em modelo adotado na Espanha.
Ficassem apenas no circuito dos Jardins, bairro paulistano que frequenta com o namorado, as declarações da deputada não iriam incomodar o filho de Eduardo Campos.
O problema é que a declaração contra a reforma trabalhista repercutiu mal em Pernambuco, onde a família Campos mantém forte influência política desde Miguel Arraes, bisavô do atual prefeito da capital.
Até por ser o estado de Lula (nasceu em Garanhuns), Pernambuco é um dos principais redutos do ex-presidente. Parte importante de seus apoiadores são ligados à família Arraes, e João sabe que a relação com o petista baliza a sua vida pública. Se afastar de Lula é tudo o que João Campos não pode.
Em que medida a rejeição de Tabata a um projeto popular pode atrapalhar os planos de João Campos, já que ela, por desincompatibilidade ideológica, já abandonou seu partido de origem, o PDT, para se refugiar sob as asas do namorado no PSB?
Tabata é desconhecida em Pernambuco, exceto por dois motivos. Primeiro por ser namorada do prefeito da capital. E depois por ter rivalizado com uma prima de Campos, Marília Arraes, deputada federal, pela autoria do Programa de Proteção e Promoção da Saúde Menstrual, vetado por Bolsonaro e que prevê a distribuição gratuíta de absorventes.
Tabata quase não vai a Pernambuco – João é que se descolca para encontrá-la em São Paulo.
Ele é bem avaliado como prefeito de Recife.
Logo cedo já está na rua, tem bom trânsito popular e aparenta ser antenado com o cotidiano da cidade.
No primeiro ano já implantou sua principal promessa de campanha, um programa de micro-crédito, e mostrou criatividade na proposta de revitalização do centro histórico da capital com o lançamento do projeto ‘Prefeitura do centro’.
LEIA mais
1. Tabata defende esquerda “como o Partido Democrata dos EUA”
2. Falas de Tabata Amaral e João Campos causam desconforto no grupo de Alckmin
3. Conselho de Segurança da ONU discutirá denúncia de uso de armas biológicas dos EUA na Ucrânia
No encontro com empresários, em que condenou a ideia de Lula de mitigar os efeitos nocivos da reforma trabalhista, Tabata viu o namorado também reconhecer que torce pelo surgimento de uma 3ª via na corrida presidencial.
João só não contava que, desta vez, sua falação entre boa comida boa e vinho caro em São Paulo fosse reverberar com tanta força no seu estado.
No PSB, especialmente entre os novos apoiadores da aliança com Geraldo Alckmin, a preocupação é de que o posicionamento de Tabata crie ruídos na relação do namorado com seus eleitores.
Campos entre a cruz e a espada
Assim, quem está entre a cruz e a espada não é a deputada, e sim o jovem herdeiro dos Arraes.
Tabata tem foco e sabe que chegou lá para atuar como despachante de luxo daqueles que financiaram sua formação e sua ascensão na vida pública.
Com Campos é diferente: vem de uma família com pé no movimento popular e atenta às causas sociais. A situação se acentua quando se lembra que a proximidade de Lula é vital à sua sobrevivência política.
O fato de Tabata ir pouco a Recife ajuda. O problema é que agora o que fala em São Paulo começa a ser ouvido nas ruas da cidade administrada pelo namorado.
Tucana de Caruaru desponta na corrida ao governo do estado
A corrida eleitoral em Pernambuco começa com uma novidade: trata-se da tucana Raquel Lyra, prefeita reeleita de Caruaru, segundo maior reduto eleitoral do estado.
Raquel desponta bem nas pesquisas e já é tida como favorita para governar o estado.
O PSB de João Campos aposta em Danilo Cabral, ex-deputado e ex-secretário de Educação e Planejamento no governo do pai, entre 2007 e 2014.
Em Pernambuco, Bolsonaro tem um candidato titular e outro reserva: p titular é Anderson Ferreira, prefeito de Jaboatão do Guararapes, na região metropolitana de Recife.
Como linha auxiliar do bolsonarismo, destaca-se Miguel Coelho, prefeito de Petrolina, filho de ex-líder de Bolsonaro no Senado, Fernando Bezerra Coelho.
Outro que desfruta do apoio de Bolsonaro em Pernambuco é Gilson Machado, o ministro sanfoneiro do Turismo que o presidente quer transformar em senador.
Partido forte em Pernambuco, o PSB inicia rateando com Danilo Cabral a corrida eleitoral de 2022: se Tabata não atrapalhasse João Campos com declarações e posicionamento desastrosos, como fez no PDT, já seria um alento.
O problema é ela insistir em se vender como de esquerda, num partido de vocação popular, quando todo mundo sabe que não passa de uma preposta da nossa direita mais gananciosa e atrasada. A direita que apostou e trabalhou pelo golpe, e por fim abraçou Bolsonaro para depois se arrepender e virar uma barata tonta.
Sem ter a quem recorrer, a imprensa corporativa tenta dar uma força, incensando Tabata e a sua conversa mole sobre esquerda e direita. O máximo que consegue é expor a menina, que não consegue iludir nem o mais apaixonado seguidor do velho Miguel Arraes.
Ciro se arrependeu das bobagens que falou sobre Tabata antes dela se revelar nas votações na câmara dos deputados. João Campos que abra o olho.
Participe de nosso grupo no WhatsApp clicando neste link