“Tarcísio é um extremista que esconde posições desumanas”, diz Pedro Serrano sobre a chacina do Guarujá

Serrano também criticou o governo Lula em programa do DCMTV

Atualizado em 5 de agosto de 2023 às 7:46
Serrano
Serrano no DCM. Foto: Reprodução/YouTube

A Operação Escudo no Guarujá soma 16 mortes e 58 prisões. A chacina promovida pela PM ocorreu após a morte do policial das Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar (Rota), Patrick Bastos Reis.

O presidente do Conselho Estadual de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana do Estado de São Paulo (Condepe), Dimitri Sales, diz que a ação policial, que agora se expande para outras regiões da Baixada Santista, é uma chacina contra a população que vive em bairros pobres com denúncias de torturas.

O jurista e professor da PUC-SP, Pedro Serrano, concedeu uma entrevista ao programa DCM Ao Meio-Dia e fez críticas à falta de ações da esquerda, do governo Lula e definiu o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) como um extremista de direita, político que disse que estava “extremamente satisfeito” com a operação.

E afirma que ele “esconde posições anti-humanas, desumanas”. Confira os principais trechos.

A “política transversal” que é necessária na segurança

Nós temos que entender uma coisa, como esquerda: segurança pública é uma política transversal. Tem que estar presente em todos os setores do Estado. Ela não pode ser uma política isolada, ela não é um setor administrativo. Ela tem que estar presente em todas as políticas de Estado.

Tinha uma proposta antiga que eu recuei por conta do conflito entre o Flávio Dino na escolha de ministro. Lá atrás eu defendi a ideia de que tinha que haver um ministério da Segurança separado da Justiça e essa pasta deveria ter um conselho interministerial.

Porque segurança pública tem que ter unidade administrativa mas tem que ter também transversalidade, para ela se espalhar em todos os ambientes do governo. 

O ministério da Economia tem que estar comprometido com a segurança pública. Políticas sociais também com essa questão. Educação tem que estar. Saúde também.

Ou seja, não é só um setor que vai conseguir solucionar o problema. Nós temos que colocar na cabeça das pessoas que segurança não é só uma questão de combate. Não é só um problema policial.

Ela é um problema essencialmente social. Que tem a ver com distribuição de riqueza. Tem a ver com o modelo de sociabilidade. Qualquer outra solução mais simples do que essa é essencialmente falsa.

Reduzir a questão da segurança para o combate é um erro. E muita gente de esquerda embarca nisso. O governo Dilma, tenho que falar claramente, embarcou. Depois se arrependeu.

Porque viu que isso migrou para a política. Essa questão do Estado punitivista nunca fica apenas na segurança. Eles criam uma técnica autoritária que migra para a política. E nós somos atingidos nisso.

Os democratas são atingidos. Foi o que aconteceu na Guerras às Drogas com o Mensalão e a Lava Jato. Isso não é a primeira vez que acontece na história humana. 

“Não há nenhum projeto transversal no governo Lula hoje”

Em suma, nós precisamos trazer racionalidade para o debate. Precisamos apontar simbolicamente. Por isso eu defendi no programa do Lula, no programa da campanha dele, que se criasse um ministério da Segurança. O programa incorporou isso.

Mas não era criar um ministério pura e simplesmente. Um ministério não muda quase nada. Precisa transversalizar essa questão. Eu não estou vendo isso acontecer no governo Lula. Acho muito ruim. É uma crítica que tenho ao atual governo.

Eles precisariam criar algum tipo de recurso, pode ser como está no Ministério da Justiça e Segurança Pública, sob comando do Flávio [Dino], que é um ministro ultraqualificado. Precisa ter essa transversalidade. Não tô vendo essa transversalidade.

Não vejo isso reproduzido no governo federal. Enquanto isso não acontecer, não teremos resposta para isso.

Não adianta a gente abrir mão da nossa alma. A característica dos progressistas é trazer luz. Iluminar. Trazer valores morais e trazer racionalidade para o debate político.

Não podemos abrir mão desse nosso papel histórico. Senão seremos fantoches da extrema direita. Não é isso que temos que fazer.

“Já que a extrema direita engana uma parte da sociedade, vamos enganar também”. Não, não funciona assim. Não é assim que se trabalha. É óbvio que temos uma grande dificuldade. 

Na pandemia foi fácil mostrar o erro da extrema direita, o genocídio por trás do erro, quando ela propunha a não vacinação, o negacionismo, e a consequência era imediata. Você deixa de vacinar, dali a duas semanas começa a morrer gente.

Nesse tipo de ação transversal, o resultado não é imediato. Vai ter consequência de médio e de longo prazo. Só que essa é a nossa tarefa. É para isso que nós existimos na política.

É projeto, racionalidade, para civilizar. Trazer luz para o ambiente da política. Iluminar.

Combater a extrema direita é o combate das luzes contra as trevas. 

É esse o desafio e agora nós temos, precisamos ter um projeto, que não é a solução total, mas é a solução transversal. Não há nenhum projeto transversal no governo Lula hoje. Nós só estamos dando prosseguimento à política velha, melhorando alguns pontos, do Estado.

Só vai matar mais gente pobre e enxugar gelo. 

“Posições anti-humanas”

Tarcísio
Governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas. Foto: Reprodução

A extrema direita deve esconder as suas verdadeiras proposições. Hitler nunca disse que estava matando judeus em campos de concentração. 

Faz parte da extrema direita esconder suas posições que não são humanisticamente aceitáveis. Bolsonaro não esconde. Então ele é inconveniente para a própria estratégia da extrema direita. Tem gente que fala em interesse do neoliberalismo. Não é. É da extrema direita. É a extrema direita que quer afastar Bolsonaro.

E assim tem que surgir líderes como Tarcísio de Freitas. Tarcísio é o mal atual. Ele e Zema.

Eles são os caras de extrema direita que vão promover chacinas como essa do Guarujá. Vão promover genocídio, morte e destruição só que com um discurso falso.

Um discurso mais fake. Que esconde suas verdadeiras posições. Que busque amenizá-las. Torná-las mais palatáveis. 

O Brasil é um país de tradição de extremistas de direita. É a nossa tradição. Em 1808 veio a Corte portuguesa fugida da Revolução Francesa. Contrária às revoluções burguesas. Reacionária. Eles defendiam a monarquia absolutista. Vejam que o reacionarismo sempre fez parte da nossa história. 

Hoje se apresenta em nova roupagem. Isso não é problema do Brasil, mas das democracias no mundo. É essa nova extrema direita ou essas novas extremas direitas. 

Tarcísio dá a demonstração de ser um líder palatável. O líder que consegue esconder as suas verdadeiras posições anti-humanas. Desumanas e próprias da extrema direita. É um líder mais adaptado à forma de agir da extrema direita.

Veja a entrevista na íntegra.

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